30 abril 2014

AVC

Encheu-se de brios e teve um enfarte.

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Aragem

O castelo era de cartas, sem ameias nem fosso. Aguentou-se como sol e foi-se abaixo com o vento.

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Baralho

Os paus derrotaram as espadas; os oiros nem se viram e as copas fecharam-se.

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Simplex

O objectivo era simples: tornar-se imortal (...em dívida para com Jorge Luís Borges). Contudo, esqueceu-se do requerimento.

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27 abril 2014

Flash

Teve uma revelação: o almoço seria atum!

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Colateral

Ele e ela acertaram-se. Embora os estragos fossem de pouca monta (algumas arranhadelas e mordidas), pior ficou o prato de loiça da avó (que se tinha ido há anos): um lanho de lado a lado. O gato miou, como quem diz: «E agora, onde é que como as espinhas?».

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25 abril 2014

Gnose

Foi atingido pelo conhecimento e desmaiou.

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Instagram

Era tudo organizado pela agência. Do pacote constavam actividades sérias e lúdicas, qualquer uma delas com grande adesão, embora a favorita fosse a da saída às reservas indígenas de flores. Cada grupo só podia colher um baldinho de pólen, feita com cuidados e paciência sustentáveis. No final, os grupos de abelhas costumavam tirar selfies.

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InterRail

Um misto de ansiedade e de excitação pautou as despedidas na família: ansiedade nos mais velhos; excitação nos mais novos. Tudo acabou por se resolver, com mais ou menos lágrimas e suspiros. O jovem prometeu escrever, assim que pudesse e encontrasse meios (sabia que isso provavelmente não aconteceria, mas era uma forma de sossegar os parentes e não sentir tanto o peso da despedida...). Lá foi para a estação, com uma mochila nem muito grande nem muito pequena. Instalou-se e preparou-se para a viagem, que teve início quando o chefe da estação apitou. Fechou os olhos e sorriu a pensar na primeira paragem: Marte!

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24 abril 2014

Gaveta

Escreveu e meteu as coisas na gaveta, fechando-a à chave. Durante muito tempo, manteve-a fechada. Um dia, descobriu-se que era por medo. Quando este passou, finalmente abriu-a. O resultado talvez não fosse o previsto, mas foi o que foi: uma escapadela.

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Cartolinas

Era normal carregar os adversários. Não por altruísmo, mas por maldade. Quando a coisa era demais (e era sempre), lá vinha a cartolina. Para os da casa, uma vítima; para os de fora, um verdugo. Tudo se resumia à cor: amarelo nos dias maus; vermelho quando estava bem disposto.

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Dormida

Era uma  pensão com aspecto asseado. Assim como assim, também não tinha mais nada. Entrou e perguntou se havia vagas. Disseram-lhe para passar mais tarde e perguntar então. Foi o que fez, já com outro recepcionista. Teve sorte. Nessa noite, o gambozino dormiu numa cama.

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Contacto

Um neurónio encontrou outro e sinapsaram.

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20 abril 2014

Bilhete

O dinheiro ia e vinha. Mais ligeiro no ir, habitualmente, mais lento no vir, infelizmente. Às vezes (muitas?), de tanto ir já não vinha.

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Aromatizante

Não tinha descaramento. Foi procurar ao sítio onde costumava guardá-lo, mas não havia (acabou por se lembrar que o gastara noutro dia). Para o que queria fazer, ter descaramento era imprescindível (sem ele, a coisa ficava desenxabida). Àquela hora já estava tudo fechado, de maneira que a solução era ir pedir à vizinhança (tinha dúvidas era a quem). Lá se decidiu a bater a uma das portas, mas também não tinham. Tentou noutra e o resultado foi o mesmo (era da crise, disseram-lhe). Lá se resignou (também porque já não tinha vontade). Acabou por fazer uns ovos.

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19 abril 2014

Moedinha

Era uma caminhada mais ou menos longa, previsivelmente com algumas paragens pelo meio. Mas era aqui, nas paragens, que o problema se punha: não pelo coração ou pelas pernas, mas pelo dinheiro. Sempre que queria parar, nem que fosse só numa perna, não o deixavam em paz e procuravam cravar-lhe uma moedinha pelo serviço de «arranjar lugar». Quando argumentava que isso era absurdo, uma vez que estava a deslocar-se a pé, diziam-lhe que isso não lhes importava, mas sim o «lugar de estacionamento» que ocupava, independentemente do «veículo» que usava (as pernas, neste caso, que pagavam uma taxa de 0,50 cêntimos, ainda assim mais barata do que um veículo de rodas). Era pegar ou ir estacionar para outro lado. Como se recusava, pintavam-lhe as pernas e furavam-lhe os ténis.



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18 abril 2014

Vontades

Tinha vontade de escrever. Mas havia quem tivesse uma vontade oposta. As duas vontades igualmente fortes, cinquenta-cinquenta. Estava-se num impasse. Como de costume, nomeou-se um grupo de trabalho, que apresentou as suas conclusões: escolhia-se a vontade. «Qual delas?», pergunta o leitor. Isso, o grupo de trabalho não dizia. Que o fizesse o leitor, se para isso tivesse vontade.

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Fotografia

_ Queria umas fotografias.
_ Com ou sem Photoshop?

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17 abril 2014

Que galo!

Habituara-se a ouvir a expressão «Fortunas te caiam na cabeça». Não a compreendia, a princípio, mas pensava que devia ser alguma coisa boa. E assim se manteve nesta convicção. Um dia, porém, esta noção alterou-se, nunca se soube porquê, mas com suspeitas fortes sobre o que terá sido. Nesse dia, mais ou menos como o de hoje (ou o de anteontem, que também não foi mau), um galo cantava na sua cabeça, já não um popular cocorocó, mas uma não menos popular ária de Puccini. Foi uma apoteose! Só encores foram sete, mas depois perdeu a voz. Apesar de destroçado, aproveitou-o para um arroz.


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Vedante

O pinga-amor fechou a torneira.

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Esticanço

Foi directo ao assunto, mas retraiu-se. Acabou com uma distensão.

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Família

O pequeno texto puxava o casaco ao grande texto e dizia-lhe que queria ser como ele. O texto grande não gostava.

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Baile

As ideias bailavam-lhe na cabeça: umas vezes ao som da valsa, outras ao do tango.

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Viagem

Foi às estrelas com bilhete de ida e volta.

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Audição

Era uma canção perdida na bruma dos tempos. Umas vezes mais na bruma, outras nos tempos. Às vezes era detectada, mas para isso tinham que ligar o radiotelescópio.

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Combate

Entrou na liça e fugiu.

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16 abril 2014

Pena

Forçou a memória e foi preso. Condenaram-no a esquecer-se.

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13 abril 2014

MVP

Prometeu e elegeram-no como melhor jogador em campo. Contudo, como impugnaram o resultado, marcou-se nova eleição para daí a quinze dias.

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Sentença

Na competição, eliminou todos os adversários. Foi condenado.

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Sem calço

Destravou a língua e ela embalou, desembestada, pela ladeira abaixo. Ninguém se magou.

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Dilema

Era um bicho-de-sete-cabeças. Queria fazer o trabalho, mas confrontava-se com a lógica e com os princípios democráticos. Afinal, qual delas deveria cortar em primeiro...?

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Idiomático 32

Tratava as coisas por tu. Umas não se importavam, outras sim. Algumas coravam. Outras perguntavam-lhe se as conhecia de algum lado e se tinha andado com elas na escola. Se respondia a estas, mandavam-no dar uma curva ou uma volta ao bilhar grande. E ele então fazia-o, metendo o rabo entre as pernas.

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12 abril 2014

Livro

O Diário Secreto de Adrian Mole aos 13 Anos e 3/4, escrito por Sue Townsend.

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Lista Interminável (até ver)

Fazer listas é um hábito como outro qualquer. Factos, nomes, o que se quiser. Comecemos também uma, sem ordem ou critério, ainda que a morte ou as comemorações às vezes possam ajudar. Poderá ser um título, um autor, uma frase, uma palavra, um filme, uma cena, uma piada, uma música, um grupo ou uma memória. Tudo junto dará uma lista, grande ou pequena, nunca acabada, ao contrário da maioria delas. Chamemos-lhe Lista Interminável (até ver).

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11 abril 2014

Aligeirar a carga

Deitou as dificuldades para trás das costas e desequilibrou-se com o peso.

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Combatente

O combate devia fazer-se com as mãos nuas. Recusou, pois tinha pudor.

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Clima

Deixou entrar o sol. Vinha afogueado e trazia notícias do tempo: o vento fora-se! Da chuva, nem vê-la! O frio hibernara e a neve parara para pensar!... Quando chegou a noite, despediu-se com um «Até amanhã».

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06 abril 2014

Indigesto

Puxava a brasa à sua sardinha, mas fazia mal. Sempre que o fazia, indispunha os pimentos.

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Viagem

Sempre que se deslocava, o icebergue pedia uma mantinha para agasalhar os pés.

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Trinador

Tinha um ponto de vista numa gaiola, à janela. Cantava de manhã à noite.

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Medidas

Media as palavras muito bem com uma régua que tirava dos bolsos. Quando não acertava à primeira, media outra vez.

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05 abril 2014

Ortodoxia

Dividia bem as orações. Mas não era acarinhado por isso, bem pelo contrário: achavam-no um divisionista. Foi ostracizado.

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Crescimento

Foram anos angustiantes e problemáticos. Mas o panorama mudara. Felizmente. Os esforços tinham sido coroados de êxito e as boas notícias começaram a aparecer. Finalmente! Segundo o último censo, a percentagem de burros aumentara!


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Habilitações

Na hora de optar, escolhera o curso de cabecinha simples. Apesar de ter habilitações para o de cabecinha pensadora, escolheu o simples, que tinha mestrado integrado e melhores perspectivas de emprego. Da família, era o primeiro a ter o curso de cabecinha simples, contrariando a tradição de maioria de cabecinhas pensadoras, quer por via materna, quer paterna. Mais tarde poderia abalançar-se a um doutoramento em cabecinha oca, mas só se as coisas enquanto cabecinha simples não corressem bem. Ia ver.

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Fato

Escolhia o vestuário com critério. Não tinha muitos fatos, mas os que tinha eram bons. Talhados à medida. Para a ocasião resolveu levar o mais largo, que era mais confortável e agasalhava mais. A mulher concordou e escolheu-lhe a gravata, coisa que ele não sabia combinar. Não resistiu a fazer um comentário e ele concordou. Na verdade, aquele esqueleto no armário era o que melhor lhe ficava...

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Velocidade ou meio-fundo?

Convenceram-no a dirigir-se aos treinos de captação, pois estava indeciso entre a velocidade ou o meio-fundo. Lá chegado, ouviu a prelecção do treinador e foi aquecendo, esperando que o chamassem para a pista. Perguntaram-lhe se já tinha competido e se estava disponível para treinar. Respondeu não à primeira e sim à segunda. Mandaram-no para as pistas do meio. Acabou a sessão e os atletas foram tomar banho, sendo-lhes dito que os resultados dos testes iriam ser afixados na porta. Acabado o banho e vestido o fato de treino (uma prenda da avó, p'los anos), foi conhecer o resultado dos testes. Ficou surpreendido: maratonista!
Conformou-se. Se queria ser velocista, o caracol teria que treinar mais...

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À luz das velas

Foi num restaurante discreto, mais ou menos por volta das 21h. Poucos clientes, alguns sozinhos. De repente, um deles levanta-se, congestionado e aflito. De outra mesa, rápida e como que à espera, salta uma, que agarra o aflito. Aplica-lhe a manobra de Heimlich. Disparado, o pedaço de tofu sai em direcção a outro cliente, atingindo-o numa virilha desprotegida. A vítima dá um «ai!» e cai redonda, quebrando um pratinho de míscaros. Mas a história não ficou por aqui. Seguiu para tribunal, onde ainda se encontra. O pratinho de míscaros não quis retirar a queixa.


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OLX

Tinha um sonho, mas não gostava dele. Vendeu-o.

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04 abril 2014

Rosa-dos-ventos

Estava desnorteada. Ao princípio, julgou que fosse passageiro. Só começou a preocupar-se quando a coisa evoluiu para o estado de sentir-se. Consultou o manual e fez o que lá se indicava, para casos como o seu: pegar na bússola, desmontá-la e voltar a montá-la. Ficou assim-assim, mas o azimute perdeu-se. Vai queixar-se ao fabricante.

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Intercomunicador

Estavam juntos há anos. Conheciam-se e reconheciam-se. Um dia, porém, o homem tocou à campaínha. No intercomunicador, soa a voz da mulher:
_ Quem é...?
_ Sou eu, quem é que pensas que é...?
Separaram-se.

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Costumes

Até então, sempre resistira. Nesse dia, não: foi mais forte e aconteceu. No tribunal mostrou-se arrependido, mas o mal estava feito. Propuseram um acordo, mas não foi aceite. A vítima, soube-se mais tarde, recusou o perdão. Havia que dar o exemplo e passar um sinal claro: pontapear os pacotes no chão era uma prática abominável, indigna de país civilizado.

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Mentira

No dia das mentiras, disseram-lhe que era escritor. Não disse nada. Hoje, já não é o dia das mentiras. Continua a não dizer nada. Escreveu.

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