31 agosto 2019

Um ovni no quintal

A aterragem do ovni no quintal ainda hoje é lembrado como um feito de perícia: na zona de pousio das verduras, pegado ao batatal. Qualquer outro ter-se-ia espetado e dado cabo das batatas, mas o piloto do ovni não. Contudo, talvez da tensão, não se impediu de dar um traque quando abriu a porta, matando por acidente um rato que por ali passava. Dano colateral, apurou-se, mas imputado ao rato, que se esquecera em casa da máscara contra gases de ovnis e marcianos, os efeitos eram os mesmos, que a prudência mandava ter sempre à mão, por aquele e outros quintais se encontrarem na rota dos ovnis, com principal incidência no período entre as 4 e as 6 da manhã. O rato esquecera-se deste pormenor e pagou com a vida.

Etiquetas: ,

História com maiúsculas

Digam o que disserem, não gostamos muito de nos associar. «Questão cultural», dizem uns; «Preço da escritura», dirão outros; «Não temos vontade e estamos bem assim, pronto», dirá a maioria.
Com A. e B. não era assim. E isto porquê? Porque sim, pronto. E dá jeito para começo de história.
A escola aproximara A. e B., como acontece com outros A. e outros B. Muitas das vezes a aproximação e a ligação mantém-se, noutras esmorece.
A vida de A. seguiu o rumo que tinha que seguir e a de B. a mesma coisa, ambos por o terem escolhido e trabalhado para o conseguir. Tiveram momentos bons e tiveram momentos maus, e fizeram o seu caminho.
A família também anda por esta história, mas podia não ter andado. Mais uma vez, andou porque dá jeito e sabe bem fazer as pessoas acreditarem em histórias felizes, que são aquelas de que se gosta, embora não vendam jornais e não passem na televisão.
Um dia A. encontrou C. e B. encontrou D. O resto adivinha-se e nasceram E., do casamento de A. com C., e F., do de B. com D. Que também cresceram juntos, brincaram juntos, andaram na escola juntos, foram para a faculdade juntos e… de cujo casamento nasceram G., H e I.
E aqui, podíamos terminar a história. Até podíamos continuá-la mais um bocadinho, depois de limpar a lagrimazita ao canto do olho, mas não vamos fazê-lo. Pelo menos da maneira que as pessoas estariam à espera…
Pelo meio, apareceu a internet

Etiquetas:

30 agosto 2019

(In)fusões

_ E para almoçar, o que é que me aconselha?
_ Um restaurante italiano, sem dúvida. Como este aqui. Que me diz?
_ Feijoada à transmontana!?... Não será um pouco excessivo?
_ Não me parece. É o conceito de fusão, percebe? É este o caminho.
_ E se for ao contrário, num restaurante de comida tradicional portuguesa?... Talvez pizza, não?
_ Poderá ser... Ou sushi, quem sabe?...
_ Estou com sede. Vai um whisky?
_ Claro. Mas simples, ok?

Etiquetas:

29 agosto 2019

Era uma vez... em Hollywood

Os filmes são do domínio da ficção, contando ou não uma história. E este é um dos seus fascinios, talvez o mais poderoso, por certo aquele que leva as pessoas a deslocarem-se às salas e a sentarem-se nas cadeiras.
Neste filme, Tarantino conta-nos a sua versão da história de uma época e de factos que se inscreveram no imaginário colectivo, por boas ou más razões. E convida-nos a partilhar essa viagem, umas vezes a direito e outras em manobras pelas curvas e contra-curvas do trajecto, para permitir (quem sabe?...) que também a possamos contar à nossa maneira.


Etiquetas:

28 agosto 2019

Aforismo

Afague o ego de quando em vez. Se não gostar, ofereça-lhe um biscoito.

Etiquetas:

27 agosto 2019

Negócio

Decidira-se por um pequeno, no sector dos delírios. Porfiara muito e esta era a melhor opção, dada a escala e a rentabilidade. Escolheu um vão de escada aprazível e soalheiro. Pensou numa cerimónia a condizer: simples, curta e incisiva. Quando acabasse, queria ter esgotado tudo. A contento dos pacientes.

Etiquetas:

Cinturinha

O corpo era de fazer perder a cabeça. Arisca, ao princípio. Letal, no fim. Comprovavam-no muitos, tarde de mais. O ferrão era o instrumento. Chamava-se vespa.

Etiquetas:

19 agosto 2019

Namoro com uma rapariga de outra terra e dizem-me que tenho que pagar o vinho, que é tradição. Tenho?

Se é tradição, é melhor. Mas dê-lhe um toque gourmet: em vez de pagar o vinho, que é uma expressão pesada, promova antes uma prova de vinhos com todos os esses e erres. 

Etiquetas:

18 agosto 2019

A escrita da vida

Duas personagens lendárias encontram-se ao jantar e bebem uns copos em nome dos velhos tempos. Muita emoção, muita história, muito qualquer coisa. Ao despedirem-se, diz um para o outro: «Naquele tempo, a própria vida escrevia-nos».

Etiquetas:

Vento(s)

O vento soprava na direcção errada. Apanhado em contramão, foi autuado.

Etiquetas:

04 agosto 2019

Chegada

A chegada à Lua foi há cinquenta anos. Apesar de a dormir, estava lá. Ainda hoje.

Etiquetas:

Tangerinas

Um filme deve ver-se numa sala de cinema? Provável e desejavelmente, sim. Haverá pormenores, dirão os especialistas, que só ganharão relevância ou esplendor numa sala. Nada a opor. Na ausência de sala de cinema, o recurso à televisão costuma ser a solução mais à mão, se bem que agora a utilização de computadores e de outros equipamentos sejam a via escolhida pelos consumidores, sobretudo os mais jovens. Mas voltemos à televisão, esse recurso audiovisual tão sovado, umas vezes bem, outras mal. No caso da exibição de filmes, por exemplo, mesmo que sem grandes entusiasmos, há coisas boas que acontecem, sobretudo se os canais estiverem disponíveis para fugir um pouco à «chapa quinze» sobre o tipo, origem e tema dos filmes. Como em tudo, muitas das opções são consequência do conhecimento, da sensibilidade e da finalidade de quem escolhe, tendo que se admitir que o risco de virem a ser ignorados ou ostracizados é real, pelo menos pela maioria dos potenciais destinatários, mais não seja pela oferta em concorrência, sejam filmes ou não.
Tangerinas é um filme que se enquadra no padrão descrito acima. Mais uma vez, e graças à televisão (canal 2), a surpresa e o agrado são as recompensas pela descoberta de um filme, actores e realizador de primeira qualidade, opinião de espectador deslumbrado. Belíssimo!

Etiquetas:

Afinado (pelo lado de cá)

_ Está pronto?
_ Ainda não.
_ Ainda não? Então!?...
_ É preciso afinar mais um bocadito.
_ Mais!?...
_ Sim, mais. É aí que está o segredo.
_ Não há pachorra!!...
_  Haver há. Tem é que se ter paciência.
_ Como assim...?
_ Afinar, percebe?... Afinar. Sempre.


Etiquetas:

03 agosto 2019

Vida de capote


Sacudira a água de cima e não vira quem estava à volta, pois o capote era grandito. Também impressionava pelo corte e pelo desenho, ambos jeitosos. Quem não era jeitosa era a formiga, uma raridade, mas com um feitio do catano, mau de assoar. E era aqui que a porca torcia o rabo.
A formiga não esteve com modas e foi direita ao capote, questionando-o:
_ Ouve lá, ó monte de tecido! Não tens olhos!?...
O capote enfiou e meteu os pés pelas mãos, que é como quem diz as mangas dentro do corpo, balbuciando coisas desconexas, mas jurando que não tinha culpa. Não teve outro remédio do que pôr-se a milhas. Mas a pingar.

Etiquetas:

Diagnóstico

Sentiu-se irreverente e deitou a língua de fora. A passar na ocasião, o médico pediu-lhe para dizer «ahaha». Torceu o nariz e receitou-lhe umas vitaminas.


Etiquetas: