O aparecimento do cabo revolucionou a forma e os hábitos de ver televisão. Uma das transformações mais significativas introduzidas pelo aparecimento do cabo foi a do tipo e natureza dos programas, que passaram a ser dirigidos a nichos de mercado característicos e específicos, com predominância para faixas etárias mais jovens, na sua maioria, e com formação académica de nível médio ou superior. Foi neste caldo cultural e geracional que nasce e se expande o êxito e o furor provocados por um programa como
A Liga dos Últimos.A princípio, duvido que alguém desse muito pelo programa ou, sequer, se dignasse a vê-lo. Tudo, penso eu, o afastaria dos favores do público: o enquadramento, o universo, os protagonistas. Tudo nele falava e remetia para uma realidade e um mundo esquecidos e abandonados, afastados de todas as preocupações e interesses, de vária ordem, que marcavam as realidades sociais e mediáticas. Parecia um combate perdido à partida, mais um aspecto do desigual campeonato entre o Interior e o Litoral, sistematicamente ganho por este último.
Contrariando talvez todas as expectativas - mesmo as optimistas, estou certo -, a Liga dos Últimos sobreviveu e prosperou, saltando inclusive para um «estádio», o Canal 1, mais amplo e desafogado do que o cabo, onde se mantém e, parece-me, afirma a sua essência de forma mais eloquente e acolhedora, sendo também o sítio onde me parece melhor será desfrutado pelos seus fãs. Que não devem ser poucos, a fazer fé numa recente votação que se realizou na internet e onde, se não me engano, foi considerado como um dos 50 melhores programas de sempre da televisão.
E é fácil compreender as razões por essa idolatria, mesmo que elas possam ser, muitas vezes, do domínio do lúdico e da galhofa, mas não menos respeitáveis por isso. Aliás, a propósito disto, já há muito que memorizei e interiorizei o que o Eça de Queiroz escreveu no livro
Uma Campanha Alegre: «Vamos rir, pois. O riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. E em política constitucional, pelo menos, o riso é uma opinião».
Ontem, a Liga dos Últimos brindou-nos com um momento inolvidável, daqueles que vão fazer parte do historial do programa, uma pérola e um verdadeiro achado - o espectador que se emociona e é levado às lágrimas sempre que ouve insultos à equipa de arbitragem! O Hernâni Gonçalves epítetou-o de «um verdadeiro Mahatma Gandhi»! Já não me ria assim há algum tempo. Um bem-haja à
Liga dos Últimos.
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