29 setembro 2019

(A)mola

_ Fale-nos de si.
_ Pouco há a dizer: sou uma mola, faço vida de mola e vou morrer como mola.
_ Não quer precisar um pouco melhor?
_ Não estou a ver como... Só se for que sou uma mola de estendal. Serve?
_ Perfeitamente. Nunca pensou em dar o salto?
_ Em tempos, sim... Mas era difícil.
_ Porquê?
_ Nem sei bem... A família, as saudades, os amigos, os entendais... Enfim, não aconteceu!
_ Acabou por resignar-se, portanto?
_ Teve que ser... E tinha que ganhar a vida. Foi assim.
_ Lembra-se do seu primeiro estendal?
_ Claro! Foi o de casa. Foi onde aprendi a profissão e me fiz mola de gente.
_ Para além desse estendal familiar houve outros, decerto?
_ Às vezes, sim. Mas tipo gancho, está a perceber?
_ Sim. Alguma vez teve medo?
_ Então não!? Já se imaginou numa corda, a tantos metros, a ter que se aguentar com o peso, a chuva, o vento, sem saber se vai desencaixar-se ou não?
_ Pois, imagino... Vida dura, portanto?
_ Dura!?... Ó meu amigo!... Dura é pouco: Duríssima!
_ Apesar disso, dessa dureza, continuou...
_ Teve que ser...
_ Uma última questão: há alguma coisa de que tenha pavor?
_ Só da concorrência desleal dos secadores...

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28 setembro 2019

Olhe por onde anda

Olhava para ela com um olhar de desejo. Um olhar rápido, fugaz, mas elucidativo. Perigoso, também. Como constatou logo, desviando-se desajeitadamente de uma bicicleta. Que quase o atropelava. Cometera dois erros: um, a concupiscência; outro, o estar numa ciclovia.

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Em forma de coro

Estavam juntos, à esquina. Não eram dois, nem dançavam o solidó... Eram quatro e aguardavam. Que as almas tresmalhadas ou inconstantes viessem pedir auxílio. Assim, em forma de coro.

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Autore(s) - take 2

_ É de minha autoria. Genuíno, puro, sem corantes. Nem conservantes!
_ E para o colesterol...?
_ Sem problemas: azeite virgem extra! Só.

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Autore(s) - take 1

_ Não tem autorias morais?...
_ Quem pergunta?!...
_ Este aqui, pequeno autor.
_ E não tem boca, o pequeno?
_ Tem, mas está a comer bolachas.


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22 setembro 2019

Namoro(s) ao som de sms

A rapariga afagava a cabeça do rapaz com uma mão e enviava mensagens no telemóvel com a outra. Preocupada com a escrita, deitava um look de quando em vez. Quando acabou, piscou-lhe o olho. Em resposta, aquele mandou-lhe um smile.



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21 setembro 2019

Coloquei no Face e no Insta um bacalhau, uma batata e uma couve e nada de likes nem de gostos. Fiz alguma coisa mal?

Fez. Para além de se esquecer do azeite, não lhe chamou «Natureza Morta» e não assinou.

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Desconforto e dilema

Escolher o champô, o sabonete, os cremes e abrir o chuveiro. A sensação é reconfortante e tem tendência a prolongar-se. Mais uns momentos não farão mal... Fechar o chuveiro e estender a mão para apanhar a toalha, nova e de boa felpa. Mas nem sempre as coisas têm um final feliz...
Há momentos constrangedores. Como aquele, que acontece às vezes, de se molhar no banho e se esquecer da toalha... Que calafrio, não é verdade? E não é pela temperatura da água, não. É pelo desconforto de ir, em pelo, ter que ir buscar a toalha, muitas vezes não se sabendo aonde! Nesse caso, solte uma imprecação ou um palavrão. É um bocado rude e boçal, sem glamour, mas costuma aliviar... Se não lhe servir a receita, considere não tomar banho da próxima vez.

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15 setembro 2019

Intervenção

Por mais que tentasse, o disparate pegado não descolava. Nem com sabão, detergente ou mezinha. Nada! Sugeriram-lhe a obtenção de uma credencial e a ida ao especialista para uma intervenção. Assim fez. Pediram-lhe o cartão e que seria a seguir. Ao entrar no consultório disseram-lhe para se deitar na marquesa e indicar onde é que estava o disparate pegado, que não se preocupasse. Que seria uma coisa simples, com anestesia local. Nem deu por nada. Concluída a intervenção, informaram-no de que enviariam o disparate pegado para análise, mas que lhes parecia benigno. Que ficasse sossegado e fizesse a vida normal. Não precisava de baixa.

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Sorte

Nesse dia, a sorte sorrira-lhe. Passados tantos e tantos dias, finalmente sorrira-lhe. Não que fosse um sorriso aberto, longe disso, apenas um sorriso. Daqueles em que os lábios parecem sofrer um ligeiro tremor, fugaz como uma brisa... Estava a delirar (a mania de se enfeitar as coisas com a veia literária...). A sorte ter-lhe sorrido era o melhor do que lhe tinha acontecido até então… Desculpava-se com o azar… Desta vez, tivera sorte.

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14 setembro 2019

Pintei a manta. E agora?

Duas hipóteses: ou o reconhecem como artista ou pode estar metido em problemas.

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07 setembro 2019

Andar vaidoso

A auto-estima passeava, impante e garbosa. A todos um aceno ou um sorriso, segura de si. Nada a afectava, parecia. Mas não contara com a pedra no sapato, que alguém (uma ressentida, um despeitado, não se sabe) insidiosamente lhe colocara. Não se descoseu, porém, e comentou para as revistas que o desencontrado caminhar estava na moda, apelidando-o de «andar vaidoso».

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Fiel

Não sendo dado a excessos, nesse dia o fiel da balança deu um murro na mesa. Fê-lo com convicção, mas também com força (talvez excessiva). Como resultado, os pratos começaram a desequilibrar-se: umas vezes mais para a esquerda, outras mais para a direita. Incomodado, procurou ajuda. Aconselharam-no a fazer fisioterapia para recuperar o equilíbrio. Mas avisaram-no que levaria tempo... Até lá, que tivesse paciência e diminuísse os pesos.

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01 setembro 2019

Pode ser bitoque?

_ Dê-me aí uma escrita criativa.
_ Bem ou mal passada?

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