15 fevereiro 2007

Morte anunciada

Tratou-se de uma triste e amarga coincidência. Horas antes, à conversa com colegas, tinha feito um pequeno rememorar de uma viagem na linha ferroviária do Tua, há anos atrás, para fazer a ligação Moncorvo-Bragança. Digo triste e amarga pois, como se veio a saber ao final da tarde desse dia, um acidente com a automotora matou três pessoas, na sequência de um desabamento de terra e da queda do veículo nas águas do Tua. É lamentável o que aconteceu, é certo, mas já nada pode devolver a vida a essas pessoas. Não tivesse acontecido o que aconteceu e, provavelmente, essa minha recordação teria um outro sabor. Assim, o que fica é este travo amargo e triste, sinal de um estado de coisas que se verifica, cada vez mais, em relação ao Interior.
Essa minha viagem durou cerca de 7 h, iniciando-se, em Moncorvo, por volta das 17 h e terminando, em Bragança, à volta da meia-noite. Já então, embora sem o desenlace desta, felizmente, era também uma «certa» imagem do Interior, do Portugal não litoral, que se evidenciava nesse roteiro e opção. A ligação rodoviária, para uma distância de mais ou menos 100 km, era de duas horas (falamos da fase pré-IPs). De comboio, que foi o que eu fiz, a ligação durou as tais 7 horas, implicando a utilização de três linhas ferroviárias: a do Sabor - já desactivada -, a do Douro e a do Tua. Havia locomotivas a vapor e a diesel, carruagens com bancos de madeira ou de napa. Começavam a soprar os ventos favoráveis à rodovia e os investimentos na ferrovia eram inexistentes, pelo menos para aquelas bandas e com os resultados que se conhecem: os de então e os de agora. À sua maneira, também eles eram um dos símbolos de uma morte cada dia mais anunciada - a do Interior.

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