«Não faças assim», ouviu-se na sala. Surpreendido, para não dizer um pouco assustado, o homem relanceou o olhar pela divisão mas não viu ninguém, o que o levou a pôr em causa o que tinha ouvido ou julgara ouvir. Resolveu ignorar e continuar com o que estava a fazer. De novo, mas desta vez com acrescento, a voz voltou a ouvir-se: «Não faças assim, pois não vais a lado nenhum». Agora, o homem estava atento e desconfiado. Levantou-se e procurou nas frinchas e nas paredes, à procura de algum artifício ou equipamento que justificasse o som que ouvira, já pela segunda vez. Mas, à semelhança do que acontecera da primeira vez, nada! Sem querer, mas compreendendo-se, o ditado sobre a existência de bruxas aflorou-lhe à memória, como quem diz que a explicação poderia ser essa, estivesse o homem disponível para aceitá-la... Mas a costela e a mente racionais eram mais fortes, e a explicação foi mandada para os confins da superstição, local habitual e morada certa para estas coisas. Nã! A explicação, se a havia, teria que ser outra...
«Não faças assim, não sejas casmurro, que não vais a lado nenhum!», ouviu-se por uma terceira vez, e desta vez o homem deu um salto na cadeira, pois o tom era mais imperativo. «Que porra!», exclamou. E, à cautela, pegou num pau que estava por detrás da porta e ficou a aguardar o quê ou quem, não sabia...
«Estás intrigado, não estás...?», voltou a ouvir-se a voz, entrecortada pelo som de gargalhadas: «ah!ah!ah!ah!ah!». E, desta vez, o homem amedrontou-se, murmurando de forma inaudível: «Quem és, quem és!? E o que queres!?...». E a voz respondeu: «Não tenhas medo. Só quero conversar. Olha pela janela».
O homem sossegou, ao ouvir isto, e olhou pela janela. Lá fora, um dos montes, dos vários que se viam à vista desarmada, franzia as suas pedras, à semelhança de um contorno de riso, e o som confirmava-o, por via das dúvidas. Até lhe pareceu que o raio do monte lhe acenava, por incrível que parecesse!... Resignava-se perante o que via ou julgava ver, não podia discernir ou confirmar isso. Talvez por ter percebido essa incomodidade ou perplexidade, o monte falante e risonho fez-se ouvir e declarou: «Estás connosco, eu e os meus irmãos, e podes ficar descansado. Aqui, nós é que mandamos. Qualquer dia, explico-te porquê».
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