30 outubro 2022

No andaime

Surpreendeu-se ao ver o pardal encarrapitado no andaime. Também a ave parecia surpreendida, um pouco receosa até, parecia, mas simultaneamente curiosa sobre o que seria aquilo, aquele monstro de pranchas e tubos de ferro ligados... Talvez por isso, pelo receio ou pela curiosidade, não se sabe, alçou o rabito e fez uma pequenina borradela... E voou para outro sítio.

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A(nort)ece

Desconfiava que perdera o norte... Só tinha uma dúvida: o norte ou o Norte...? Teria que ver com cuidado, para não se precipitar... 

Tanto quanto se lembrava, ontem ainda os tinha: tudo correra bem e os azimutes estavam correctos. Hoje, porém, tivera esse pressentimento. Estaria a ver bem...? 

Olhou para o espelho e conferiu se a imagem reflectida era a que era suposto ser: era - a sua, não havia dúvidas. Por aqui tudo ok.

Olhou para o céu. Parecia-lhe o mesmo e com aspecto normal. Posicionou-se para se orientar e localizar os pontos cardeais: Norte, Sul, Este e Oeste. Deu um suspiro de alívio - conferia! Pelo menos, confirmara que não perdera o Norte. Agora, o norte?...

Para ter a certeza, começaria por exercícios simples: a prova dos noves, primeiro, e a dos factos, depois. Quanto à primeira, funcionava; quanto à segunda, funcionava também! Era estranho! 

Ainda lhe passou pela cabeça recorrer a forças mais poderosas, vocês sabem a quais me refiro..., mas felizmente que não passou disso, de lhe passar pela cabeça. Não foi preciso, quando verificou que a razão era simples: mudara a hora! Apenas.

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29 outubro 2022

Status quo

_Querido, dá-me uma moedinha?

_ Não tenho, querida...

_ Amor, dá-me uma moedinha?

_ Não tenho, amor...

_ Porra! Nem mudando as palavras de carinho tenho uma moedinha!?...

_ Há coisas que não mudam...


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23 outubro 2022

FOLE (falar, ouvir, ler, escrever)

_ O que é que o traz cá?

_ Escrevo cada vez pior...

_ Já há muito...?

_ Talvez, sim... Será dos óculos...?

_ Vai-me desculpar... mas deve estar enganado acerca do especialista que precisa...

_ Como assim...!?

_ Sou otorrino. Eu é mais ouvidos e garganta...

_ Também serve!

_ Não estou a perceber... Não se queixou dos olhos...?

_ Sim. Mas também estou a falar cada vez pior... 

_ Mas qual é a ligação à escrita!?... Desculpe, mas não percebo.

_ É fácil: estão conectados! Um sem o outro não funciona.

_ Explique lá isso.

_ Então é assim: antes de escrever, declamo-os para ver como é que soam. Se soar bem, escrevo. Se não soar...

_ Então...?

_ Também estou a ouvir mal...


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Ramen Shop - negócio de família

Há sempre surpresas no visionamento de filmes. Como este, Ramen Shop - negócio de família, visto na televisão. Tem uma abordagem da história curiosa, centrada na gastronomia daquela parte do mundo, em particular de pratos que terão, pelo que pude perceber, uma expressão significativa na cultura e afectividade dos povos abrangidos, servindo de pretexto para contar e reflectir sobre a história e o passado comuns, antagónicos ou cordiais, bem como o impacto disso nas pessoas e nas famílias, com efeitos e raízes diversificados.

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20 outubro 2022

Aforismo

 As ilusões são efémeras. E as que apontam para a riqueza fácil, então, são instantâneas.

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O Padrinho

O Padrinho é um filme de culto. Sendo uma frase feita, não deixa de ser verdade. Visionado recentemente num canal televisivo, com as minhas desculpas por isso e um reconhecimento de que, de facto, a história, o desempenho dos actores, as cenas e a realização merecem, para não dizer exigem, um ecrã de cinema, não tenho dúvidas, é um filme que continua e vai continuar a interpelar-nos, obrigando-nos a olhar e atentar em pormenores que, de tão vistos ou mal apreendidos, remetem para uma realidade e uma dimensão que extravasam o chamado «filme sobre a Máfia» ou sobre gangsters. Por exemplo, a reflexão sobre o que é e como se vive a família, conceito amplo e multifacetado, convém não esquecer, e as suas implicações nos projectos que se constroem ou ambicionam com ela relacionados, um caminho sinuoso e árduo, quantas vezes, exigente e obrigando a sacrifícios, duros, sim, mas também questionáveis e implacáveis, numa luta permanente e sistemática, passo a passo, degrau a degrau, até se vislumbrar ou atingir o cume... E, nessa caminhada, o cruzamento com o poder ou os poderes, de diversa ordem, que se perfilam e se posicionam, levando a interrogações ou perplexidades... Em suma, um filme para se ver, rever e reflectir. E continuar a deslumbrar-se, por exemplo pela cena inicial, desta vez, filmada com pouca luz, sem muita definição dos contornos físicos das personagens, mas com uma voz a marcar o tom e a penumbra em que se movimentam, pontuando a história que se segue, contrapondo-se ao luminoso, aparentemente, que se irá mostrar a seguir...

 


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16 outubro 2022

Continência

Deu os bons-dias e pediu um café. Enquanto o tomava, cumprimentava quem estava e dava dois dedos de conversa sobre isto e aquilo... Tudo normal e habitual, como se constatava, mas rapidamente se transformando quando os olhos se fixaram numa das janelas do estabelecimento, uma das que confrontavam para a rua, e deu com um homem, mais para o velho do que para o novo, a fazer apresentação de armas com um guarda-chuva, pareceu-lhe, mas a que a sua experiência dava realce, só não sabendo se a sequência se apresentava como um «Ombro arma!» ou um «Apresentar arma!», ficara confuso... Na dúvida, perfilou-se, fez a continência e pagou o café.


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12 outubro 2022

Mudou (-se?)

_ Muitos comentadores asseguram que a sua escrita é nervosa, sôfrega e impaciente. Quer comentar…? 

_ Não.

_ Porque não?! 

_ É diferente, agora…

_ Porquê? 

_ Cortei-me…

_ Magoou-se muito…? 

_ Nada.

_ Então…!? 

_ Contive…

_ Fez um garrote, é isso? 

_ …-me.

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09 outubro 2022

Literal salvação!...

«Tem dez minutos. Se os esgotar, nem sei o que lhe faço!!!...». 

Dispunha de 10 minutos. Não mais!... Para bom entendedor... Como sempre, trabalhava sem rede... E sem plano!... E sem motivo!... E sem... Assim não ia lá, pensou... Gastaria alguns momentos, talvez... Minutos, que fossem... Olhou para o relógio: nada!... Não era surpreendente: não tinha relógio ou tinha-se esquecido!... Não se lembrava. Perdera a noção do tempo! Perdera-a, algures... Respirou fundo e procurou concentrar-se... Viu uma luz e seguiu-a... Era de uma bicicleta. Não, de uma trotineta! Azar... Trotinetas não queria. Tinha-lhes medo. Se fosse uma bicicleta... ainda que vá. Agora, uma trotineta!?... Apoquentou-se, lembrando-se do tempo. Que era escasso, mesmo tendo perdido a noção. Respirou fundo, de novo... Talvez agora: «Era uma vez»... Acabara o tempo!... Não aconteceu nada!... Pelos vistos, o «(...) nem sei o que lhe faço» era literal...

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É da minha vista ou ainda não vi marmelos nenhuns!?

Espreite melhor e depois diga-nos...

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08 outubro 2022

É simples...

_ E sobre o que quer falar...?

_ Sobre nada.

_ Assim é mais difícil... Nada, mesmo ...!?

_ Nada.

_ Não quer falar, é isso...?

_ Não. 

_ Então, não falamos...

_ Porquê...!?

_ Disse que não queria falar sobre nada...

_ Mas eu quero falar!...

_ E sobre quê, pode saber-se...?

_ Sobre nada.

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05 outubro 2022

Rotina

Acordou. Levantou-se, espreguiçou-se... e voltou a deitar-se.

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02 outubro 2022

Livro

 O Seminarista, de Rubem Fonseca.

Uma escrita ágil, uma história que agarra, um autor exímio. Foi você que pediu um policial...?

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E a explicação é...?

_ Isso vai ou não...?

_ Vai, claro! Não tarda nada, está feito!

Passa-se meia hora...

_ Está feito?

_ Só mais um bocadinho... Está quase.

Passa-se uma hora...

_ Está ou não está?...

_ É como vê...

_ Mas... mas isto está pior do que o que estava!...

_ Estava à espera de quê...!? Sempre a interromper...

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01 outubro 2022

Ratatouille

Munira-se dos ingredientes necessários para a concepção e produção da ficção. Como era hábito, optaria por uma calda simples, sem marinada. Não estava convencido do efeito, para não dizer dos ingredientes, mas que se poderia fazer...!? Passar-lhe um tudo nada de picante, talvez...? «Era cedo», sussurava-lhe o lado consciente da moral, mas a vontade não era muito de seguir o conselho, para não dizer imposição... Talvez fosse preferível chegar a uma solução de compromisso... Por isso, mais ou menos contrafeito, foi buscar a panela e começou a cortar os frutos... Assim como assim, estávamos no tempo dela... «E que tal fazermos marmelada...?», ouviu-se a sua voz em direcção a alguém, semi-oculta na cozinha...

 



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Na linha de fogo...

Agora, que tudo se passou, é fácil fazer vaticínios ou especular sobre os indícios... Estava calor e a hora não seria a mais apropriada para o balancete de possibilidades... Mesmo assim, seguiu em frente. E tão bem ou mal o fez que, passado o desconforto, no início se irritou e, no fim, acabou às gargalhadas... Pensando bem, quem o tinha mandado colocar debaixo da linha de fogo do pombo no beiral...?

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Escrita: curta ou extensa?

«Escrever pouco e pouco escrever dá ou não prazer de ler...?». Por via das dúvidas, foi grafado com aspas, não vá o Diabo tecê-las e aparece alguém a invocar a autoria, coisa para a qual não se está preparado, de momento, ou talvez nunca se venha a estar... Que dizer a isto, se não uma ou outra banalidade, mas que se pode fazer...? Avancemos, pois, com uma delas, pode ser a primeira:

Há quem goste e há quem não goste de textos ou escrita concisa, aqui entendida no seu sentido de pouca, mas não numa versão depreciativa, desculpem lá ó amantes de escrita a metro, para não dizer ao quilómetro!... 

Já se percebeu (também não é difícil, reconheça-se) que aqui o escriba é adepto deste estilo e forma de expressão, com isso não retirando legitimidade ou valor (longe disso!) a quem escreve de forma mais desenvolvida, até porque é necessário ter perfil e gosto para isso. Nada a opor!

O que está em causa, em suma, são formas de expressão escrita, mas também emocional e vivencial, parece-me, diferentes, com adeptos e detractores, sem dúvida, mas dignamente louváveis, caso o que está em causa seja o gosto e o prazer nessa actividade.

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