31 dezembro 2014

Cruzamentos

Filhos dos mesmos pais e concebidos para o mesmo fim, levavam uma vida separada e autónoma. Sobrepostos ou paralelos, tinham como destino nunca se cruzarem, disparando cada um para seu lado. Parecia estranho, às vezes mesmo injusto, mas era o que era. Aos pais doía mais nas épocas festivas, sobretudo no Natal, e aos filhos pensa-se que também, mesmo que o não demonstrassem. Aparentemente, pelo menos. Alguém que conhecia a família (eu, na qualidade de narrador), resolvera arranjar solução, custasse o que custasse. E custava alguma coisa, diga-se já: mais caro com o Espírito de Natal do que com o Espírito dos Desenhos Animados, ambos com IVA a 23%. Dada a época e a solicitação, o Espírito de Natal já tinha acabado. Restava, pois, o Espírito dos Desenhos Animados, que tinha o inconveniente de ser mais imprevisível. Mas tinha que ser.
Apanhado o espírito, foi relativamente fácil arrematar a solução e o serviço. Para quem a esteja a prever, era isso mesmo: cruzá-los. E foi o que se fez: cruzaram-se os canos, sobrepostos ou paralelos, não interessa para o caso, e toda a gente ficou feliz. Desde que não disparassem os gatilhos, está bem de ver...

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