Amanteigar
Como todas as desavenças, a discórdia começa por uma coisa pequena. E a desavença entre o corpo e a alma teve origem numa coisa pequena, na escolha do pacote de cereais para o pequeno-almoço, mais precisamente, com isso cumprindo o que se tinha vaticinado no início do texto. Por causa da percentagem de gordura, no caso da alma, e da quantidade de fibra, desejo do corpo, deu-se cabo de uma relação que tinha tudo para ser perfeita, pese embora os agoiros («azangos», floreia e devaneia o narrador, contente e satisfeito pela nova conquista vocabular, de que muito se orgulha e embevece, com isso se distraindo do que devia fazer e, neste caso, contar, não vá dar-se o caso de alguém estar por ali a querer saber como é que a história acaba e, como se faz tarde...) de alguns e mais umas tantas, filhos e filhas de credos e filosofias várias. «Comessem pão, como no tempo dos avós», diziam os nostálgicos; «Água, chá e fruta», contrapõem os modernos, cada um se chegando à sua receita (que as não há, alguém já o escreveu algures - o malandro do narrador, talvez?... - parece-me que neste espaço, se não falha a memória). Mas a história, como é que acaba? Não se sabe. Amanhã, pelo pequeno-almoço, pense nisto e reflicta consigo: será que a minha alma gosta de torradas?...
Etiquetas: Historieta
<< Home