03 dezembro 2017

Sem assunto

Acontece com frequência. Com tanta frequência, aliás, que a maioria das pessoas não lhe liga importância nenhuma, numa sábia atitude de quem já viu ou sabe muito ou, pelo menos, alguma coisa. De que se trata? Simplesmente, de não ter assunto. Tal e qual como se descobre a falta de arroz ou de dinheiro, a falta de assunto também se mostra com esta roupagem, a da falta. Não moral mas física, daquela sujeita à realidade de um comprimento, largura e altura, por ténues que sejam. Apesar de ser assim, no seu caso, contudo, isso não deixa de lhe provocar alguma perplexidade, uma vez que desde sempre procurou proporcionar as melhores condições de habitabilidade aos assuntos que acolhe, muitos deles apanhados nas valetas ou vales deste mundo ou do outro, sempre com a garantia de um banho e de serventia de cozinha, excepto aos dias de semana. Com alguns chegam mesmo a estabelecer-se alguns laços de cumplicidade, com direito a troca de prendas no Natal e a bebida de uns copos por altura dos arraiais de verão. Num mundo ideal as coisas não serão assim, mas convenhamos que serão mais chatas. E a chateza é daqueles assuntos de que a gente não gosta, nem distraídos! Para esse não há banho nem serventia de cozinha, quer aos dias, quer ao fim de semana. Era o que faltava!
Mas não se infira das frases anteriores que o cenário é cinzento e frustrante. Pelo contrário, é até muito motivador! Em quê não se sabe, mas cai sempre bem uma referência à motivação e à capacidade de superação. E aqui começa a ver-se o assomar da cabeça de um assunto, pequenina ainda, mas a mostrar os dentes. Veremos se são de leite ou definitivos. Ainda não dá para ver se é menino ou menina, mas lá há-de aparecer o momento. Até lá, vamos dar uns retoques na divisão de acolhimento. Para começar, vamos pôr um anúncio: nas superfícies comerciais, nos placards, na via pública e nas redes sociais, aqui com a menção expressa de que não se aceitam indignações nem manifestações de polegares para cima ou para baixo. Muito menos dos cabeçudinhos dos smiles e afins, a arreganhar a bocarra ou a descair a imitação de sobrancelha.
O que for será, e nada melhor de que uma frase críptica para dar um tom de suspense, à laia de uma malagueta que se mete à sorrelfa num prato de estalar a vista, deixando-se à imaginação de cada um o entendimento do que se pretende, provavelmente nenhum, a fazer fé no exemplo.

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