19 dezembro 2020

À procura da paisagem interior - amostra 6

A mensagem da PI dizia: «Tenho o Pai Natal em casa. Bjs». Estranhei a ausência de pontos de exclamação. Se fosse comigo, seriam pelo menos dois ou três, dependeria da qualidade do Pai Natal: nível um, o próprio, nível 2, os sucedâneos credíveis, e nível 3, os rascas. Sim, os rascas, pois também os há no universo de pais natais. À falta de melhor, lá têm que avançar... Desconhecia, por isso, qual o nível do pai natal em casa da PI.

Assobiei ao Senupe, mas não ligou puto. Ainda lhe disse: «Queres ir, Senupe, ver a Marmela...?». Ainda arrebitou as orelhas ao ouvir o nome da cadela, mas passou-me um bilhete onde escrevera: «Estou num workshop on-line. Agora não é oportuno». Teria que ir sozinho, por isso.

Cheguei à casa da PI e surpreendi-me com o «veículo» estacionado à entrada: um trenó, modelo híbrido, polido e cheio de luzes, matrícula 01-Santa Claus - Lapónia. Se o meu problema era saber que tipo de pai natal estava alojado na casa da PI, ele estava resolvido: era o próprio, nível 1, logo!!!. Tinha que aproveitar a ocasião. Entrei.

Como sempre, a PI fazia as honras da casa. Vestida de elfo, as músicas de Natal ouviam-se por toda a casa e as luzes iluminavam-na. Parecia uma festa e era! No sofá, a beber uma bebida quente, o Pai Natal, o próprio!!!, estiraçado e sem as botas, que urbanamente tinha deixado à entrada, ensinava à PI o seu célebre Ho!Ho!Ho! (pronunciar em inglês, por favor), que ela aproveitava como exercício vocal para uma ambicionada carreira (ainda não concretizada, felizmente...) enquanto cantora de ópera, rindo-se de cada vez que o som parecia mais um hu! hu! hu! do que o tradicional ho! ho! ho! (não esquecer o alerta anterior, please), que ela atribuía à emoção e, diria eu, à sua formação cultural francófona (ver episódios anteriores, s'il vous plait (ahahahahah!, desculpem, mas não resisto))...

Depois dos três chochos habituais, à minha pergunta sobre como é que se tinham conhecido, a PI respondeu candidamente que por «telepatia», não valia a pena explicar mais nada, que eu teria dificuldade em entender, era melhor assim, mas que aproveitasse para conversar com o «Santa», diminutivo carinhoso com que o apelidava, que ele ia gostar. E que não me preocupasse com a tradução, pois ele dominava perfeitamente o Português, incluindo os palavrões, que estivesse à vontade e não me acanhasse. Foi o que fiz.

Sobre a conversa, fascinante e profunda, como se compreenderá, vão desculpar mas não irei revelá-la. Talvez noutra ocasião. Só lhes digo que aprendi muito!...

Cá fora, qual quadro ídilico!..., a Marmela e as renas corriam e galopavam jardim fora, aproveitando, aqui e ali, para dar uma mija pelos canteiros... Na Primavera haveria novidades...



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