Moedas
Era para ser um dia como os outros... Se o pensou, estava enganado. E a razão encontrou-a logo de manhã. Cruzava-se com uma mulher quando o som de moedas a bater no chão os despertou das suas rotinas ou ensimesmamentos. Atrapalhada, uma, dizendo «Oh, meu Deus...», condescendente, outro, que ironizava com «Então, está a semear as moedas?...», o certo é que ambos se agacharam, recolhendo as moedas e fazendo o que a urbanidade manda... «Curioso», pensou o homem, «como é que é instintivo o gesto de se agachar e apanhar as moedas, próprias ou alheias, deve ser isto a que se chama o espírito perverso do capitalismo...», ironizou e concluiu o tal, seguindo o seu caminho.
Como a realidade é mais rica (em sentido literal e figurado) do que o que costumamos pensar acerca dela, um novo desafio envolvendo moedas estava previsto, já não sob a forma de chuva, mas apenas de uma só, que um reflexo mais rápido do que o da titular resgatou da poeira e que teve direito à recompensa de um «Obrigada!», à semelhança do que também tinha acontecido no episódio inicial, em nome da verdade se diga, desta vez sem a invocação do divino. «Interessante», arrebitou de novo o artista, «se calhar isto quer dizer alguma coisa... Interessante, de facto».
Final de tarde, um céu a adivinhar chuva. Gente na rua, nos cafés e nos centros comerciais. Uma lembrança de uma falta para o jantar que urge resolver. Caminhando à frente, um casal de mais de meia idade, talvez. Sobem as escadas e a mulher, aparentando indícios de uma progressiva degenerescência no controlo da mão, retira a mão do bolso e deixa cair uma moeda sem se dar conta, tão pouco o companheiro. Caminhando atrás, volta a agachar-se e apanha a moeda. Segue o casal e espera pela oportunidade de a entregar aos proprietários. Quando esta chega, entrega-a. Ao recebê-la, o homem agradece e recrimina, de forma suave, a mulher, alertando-a para um hábito que se intensificava, que esta acata de uma forma de quem não está a perceber o que se passa... E então, só então, o homem que recolhera e entregara a moeda soube que aquele dia não seria um dia como os outros...
Como a realidade é mais rica (em sentido literal e figurado) do que o que costumamos pensar acerca dela, um novo desafio envolvendo moedas estava previsto, já não sob a forma de chuva, mas apenas de uma só, que um reflexo mais rápido do que o da titular resgatou da poeira e que teve direito à recompensa de um «Obrigada!», à semelhança do que também tinha acontecido no episódio inicial, em nome da verdade se diga, desta vez sem a invocação do divino. «Interessante», arrebitou de novo o artista, «se calhar isto quer dizer alguma coisa... Interessante, de facto».
Final de tarde, um céu a adivinhar chuva. Gente na rua, nos cafés e nos centros comerciais. Uma lembrança de uma falta para o jantar que urge resolver. Caminhando à frente, um casal de mais de meia idade, talvez. Sobem as escadas e a mulher, aparentando indícios de uma progressiva degenerescência no controlo da mão, retira a mão do bolso e deixa cair uma moeda sem se dar conta, tão pouco o companheiro. Caminhando atrás, volta a agachar-se e apanha a moeda. Segue o casal e espera pela oportunidade de a entregar aos proprietários. Quando esta chega, entrega-a. Ao recebê-la, o homem agradece e recrimina, de forma suave, a mulher, alertando-a para um hábito que se intensificava, que esta acata de uma forma de quem não está a perceber o que se passa... E então, só então, o homem que recolhera e entregara a moeda soube que aquele dia não seria um dia como os outros...
Etiquetas: Sociedade
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