Dar ao pedal
Talvez memória longínqua de uma motorizada, não sabia, o certo é que gostava do gesto de pô-la a funcionar carregando no pedal lateral. Vezes sem conta, às vezes. Mais tarde, reconheceria ao gesto um duplo significado: um literal, de pôr a máquina a funcionar; outro, mais simbólico, como se escorraçasse alguma coisa, à laia de uma patada. Com o passar dos anos e das técnicas, manteve esse gesto associado ao acto de escrita. Outros chamar-lhe-iam impulso, inspiração, rasgo, epifania, rotina, ofício, etc. e tal. No seu caso, patada soava-lhe bem. Excepto agora, que tinha tido uma cãibra.
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