À procura da paisagem interior - amostra 4
Não se conseguia lembrar do nome da artista francesa... Apesar disso, não estava com vontade de recorrer ao tira-dúvidas corrente, o tio Google, optando antes por fazer uma visita à Paisagem Interior, que agora pedia que a tratássemos por PI, desde sempre uma memória infalível para nomes, acontecimentos, enquadramentos, e tudo o mais que tivesse a ver com o french way of life e sucedâneos, quaisquer que fossem...
Meu dito meu feito! e ali ia ele todo chispado pelas ruas e vielas que iam dar à casa da PI, depois de feito o tradicional e obrigatório contacto prévio pelo telemóvel, que tocou poucas vezes (uma novidade), e uma resposta calorosa (outra novidade) transcrita como «Aparece, filho!». E o «filho» pôs-se a andar.
Embora não programada, a visita pelo Outono estava mais ou menos prevista, só não tendo ocorrido mais cedo pois se tinha querido dar margem de manobra e possibilidade de respiração para a fase pintora da Paisagem, projecto que tinha anunciado com pompa e circunstância na última visita, ficando a aguardar-se se ocorreriam outras pela estação dentro. Ir-se-ia ver...
Como já conhecia bem o caminho, incluindo alguns atalhos, a chegada a casa da PI foi mais ou menos rápida. À medida que se aproximava da porta, os latidos de um canídeo começavam a tornar-se mais audíveis, deixando-o intrigado e com alguma ansiedade, pois desconhecia se o animal seria assanhado ou não (sempre uma incógnita), mais a mais porque a sua dona, a PI, tinha dias... e alguns não eram bons... Talvez a coisa resultasse bem.
Quando a abriu a porta, deparou-se com o animal, de raça Pug, «fofinho» como os entusiastas da espécie costumam apelidá-los, machos ou fêmeas, de nome Marmela, uma homenagem à estação e ao fruto, explicou-lhe a dona, depois de lhe ter dado três beijos, à moda francesa, nunca esquecer, que isto de ser um convicto defensor dos méritos e resultados do «Oh, la France!... Toujours la France!...» exigem dedicação e comportamento condizente, «Oh, la-la...»...
Mas quando teve a oportunidade de olhar, com mais detalhe, para a PI, o que sobressaía era a espécie de quimono que envergava, em tons floridos, bem como a música que se ouvia em fundo, uma espécie de som a apontar mais para os lados do Oriente, dizia-lhe o seu ouvido musical, destreinado que estivesse...
E também a afirmação de que a PI, agora, se dedicava à poesia haiku, estava fascinada, e já pensava em editar um livro, que se preparasse pois quem o iria apresentar era ele... Quanto ao nome da artista francesa, acabara por se lembrar. Mas já não interessava...
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