«O guardião de estações de comboios»
Já lhe admirava as fotografias, agora invejo-lhe a escrita, que atribui a «feitiço da terra». O texto que vou transcrever é, para mim, admirável. Mesmo não lhe dizendo o nome, aqui fica o registo para quem o quiser ler e apreciar.
Minhas senhoras e meus senhores, apresento-vos um belo texto: «O guardião de estações de comboios»!
«Disse-me ele, o guardião de estações de comboios, que há muito que não passam comboios, naquela e nas outras estações, que eles vão guardando, à vez. Por ali passava o carvão, para a Beira, mas só até 76, 77…depois, nada. O abandono instalou-se. Olhei os carris, os novos, reluzentes, à espera de novas rodas de ferro. Ao lado, os carris velhos, resistentes mas inúteis, testemunho das histórias deste guardião de estações de comboios. Depois olhei o balcão de madeira, lá atrás, e invejei-lhe a memória dos braços e mãos que nele pousaram e suaram, e dos corpos que a ele se encostaram, contando histórias, indagando horários...há-de vir! Há-de vir o dia em que os comboios voltarão a passar, a caminho da Beira, e o guardião de estações de comboios vai levantar-se da cadeira e empunhar a sua bandeirinha – onde estará o seu chapéu? -, soprar o seu apito e reparar que o abandono caminha por entre o mato, em direcção a sítio nenhum.».
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