Entrou na biblioteca e
dirigiu-se às estantes. Sem objectivo definido, olhava para os livros
com um ar de quem não se interessava muito por eles, folheando um ou
outro, lendo duas ou três linhas de poucos, consultando resenhas e
mirando capas. Estava quase a ir-se embora quando, na sequência de um
olhar mais atento, identificou o livro que publicara, anos atrás,
curiosamente entalado entre um de autor conhecido, de um lado, e outro
de autor não-alinhado por correntes e ou famílias literárias, de outro,
vizinhança que lhe agradava e surpreendia pelo contraste, embora o
coração do nosso visitante balançasse mais para o lado da vizinhança com
o pouco conhecido ou pelo menos assim catalogado.
Publicado, o livro deixava de lhe pertencer, disseram-lhe. Talvez por isso, apressou o passo e procurou sair o mais rápido possível, fosse por má consciência ou por receio da emoção pelo reencontro... Uma estupidez, de facto, reconheceria logo então... Obrigou-se a ficar e dirigiu-se ao sítio da estante onde o livro estava, aparentemente longe de imaginar o conflito que decorria dentro do autor, o seu «pai», de facto. Aproximou-se e dirigiu-se ao livro, pigarreando a voz antes de lhe perguntar: «Como te tratam as letras...?».
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