Hoje é do «Dia da Criança». Cheirando a frase feita, diria que este 'Dia' é celebrado por todas as faixas etárias, quero acreditar que imbuídos de um espírito bom e agradável sobre ele. Para quem avançou nos anos, não há problema em fazer de conta que isso não aconteceu e comportar-se, nem que seja só em espírito, como a criança que outrora se foi, ou, pelo menos, aparentada. Associado a isto, alerto para a realização da Feira do Livro de Lisboa (FLL), a decorrer no Parque Eduardo VII, de 29 de Maio a 16 de Junho, um dos espaços e ocasiões para levar e partilhar com os mais novos, fica a sugestão.
Para celebrar o 'Dia', a recordação e a reprodução da história, intitulada 'A princesa e o sapo', integrada no livro «Sem pés nem cabeça. Apenas dedo», da autoria do meu gémeo falso, Manuel Rodrigues, e publicado pela Lema d'Origem Editora, presente na FLL, no pavilhão H09.
«Uma história deve ser credível. Mesmo que seja para crianças. Se não for
credível, não é real. Nem as crianças acreditam nela. Esta não é uma
história dessas, das não credíveis. É uma das histórias das outras, das
reais. Os personagens da história são uma princesa e um sapo. A princesa
é feia e o sapo também. A princesa não tem desculpa, pois é princesa,
mas o sapo tem, pois é um sapo. A princesa passeia pelos campos. O sapo
folga nos pântanos. Nunca se viram ao vivo, a não ser ao longe. No seu
passeio, a princesa costuma acenar ao sapo. O sapo, que não tem mãos,
não pode. Em vez disso, coaxa, que é a voz que os sapos usam quando
querem falar com os humanos, ainda que sejam princesas. Mas a princesa
não sabe o que diz o sapo, pois não trouxe o tradutor para o coaxar, que
é caro e nem se sabe se existe. Mas as coisas podem mudar. Mesmo sem o
tradutor, o sapo lá se fez entender, o que custou, mas lá conseguiu.
Disse à princesa que lhe desse um beijo, se queria ficar bonita. A
princesa pensou muito, muito, muito. Acabou por aceitar, mas fez o sapo
jurar que casava com ela, se a enganasse. Depois, deu-lhe um beijo.
Transformou-se em sapa. Bonita, por sinal.
Uma história deve ser credível. Mesmo que seja para crianças. Se não for
credível, não é real. Nem as crianças acreditam nela. Mas esta história
não é para crianças.».
in Manuel Rodrigues, Sem pés nem cabeça. Apenas dedo, Carviçais/Torre de Moncorvo, Lema d'Origem Editora, 2020.
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