23 junho 2019

Fraternamente

A reunião dos dedos da mão fora marcada com urgência. Como sempre, a convocatória dava azo a variadas reacções: vontade de deslocação para outro local (caso do polegar), inquisição (mania do indicador), irreverência (característica do médio), responsabilidade social (estatuto do anelar), contentamento pela chamada (alegria do mínimo). Apesar da diferença de estados de espírito, não tinham outro remédio do que estar juntos. A agenda tinha apenas um ponto: a nova funcionalidade do polegar, que este recusava, à partida, mas a que teria que se sujeitar face aos compromissos familiares e ao ar dos tempos, cada vez mais dependentes do telemóvel. Por isso, a reunião teve um desfecho rápido. Concluída esta, cada um devia seguir a sua vida como habitualmente. Contudo, não se contou com a influência do dedo do meio sobre o polegar, a quem aconselhou a adoptar as novas funções só depois dos festivais de Verão. Até lá, tudo como dantes. Apesar dos resmungos, tiveram que aceitar o pacto. E, para que não restassem dúvidas de que continuavam unidos, logo se cotizaram para que o polegar fizesse o circuito dos festivais com algum desafogo. Quando lhe quiseram dar a boa notícia, já ele se tinha pirado para parte incerta. Quem lucrou foi o mindinho, que ganhou uma dose reforçada de pipocas.





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