13 maio 2018

Ratoeira

Começava o dia a espreitar para a ratoeira. Como havia sempre algo, avaliava o que lá caía: peso, cor, ânimo. Era o que dava. Com mais ou menos cuidados, puxava-a para fora. Umas mordiam mais do que outras, mas aguentava-se, dando-se-lhe desconto por causa da queda na ratoeira. Que não devia ser agradável, reconhecia. Mas nunca o era.
Podia ser qualquer coisa: uma palavra, uma expressão, um som, uma memória, uma música, um cheiro, um ambiente. Pintada ou a preto e branco. Real ou imaginária. Efémera ou persistente. O objectivo era sempre o mesmo: escrever histórias lineares. Sem atalhos. Nas vezes em que não o fizera, metera-se em trabalhos. Afirmava o ditado e podia confirmá-lo. Por isso, aprendera.


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