21 agosto 2021

À procura da paisagem interior - amostra 11

Chegadas as férias, PI encontrava-se num dilema: não fazer nada ou iniciar-se numa carreira literária. Passada a fase da pintura, de um rápido passeio pela escultura (com resultados nada promissores, aliás, mas com boas expectativas para manter acesa a chama da criatividade, como se constata, confrontados com a mais recente opção artística, assinalada na primeira linha), PI estava muito dependente da gestão de humores provocados por uma inconstante e frágil previsão acerca das movimentações climáticas e dos avanços e recuos sobre a magna questão sobre o sentido das coisas, quaisquer que sejam, matéria a aprofundar com o círculo mais próximo dedicado às questões existenciais e aparentadas, mas que provavelmente só seria retomada no Outono, estação do ano mais propícia a este tipo de matérias e ou preocupações...

Ainda não muito certa sobre se este início poderia estar na origem de uma obra de fôlego e verdadeiramente inovadora no panorama literário (a PI não costumava fazer a coisa por menos, mas isso já era um clássico, coisa que lhe vinha de berço, poucos sabiam, mas era um facto), mesmo assim sentia-se motivada para continuar o empreendimento, mas para já resolvia-se por uma pausa, acompanhada a café e meia dúzia de inspirações/expirações que lhe tinham sido ensinadas por um guru de proveniência incerta, mas previsivelmente de uma área geográfica especializada em gurus, que costumava funcionar e antecipava os períodos em que tinha que tomar uma decisão ou escolher um caminho.

A grande questão era esta: que fazer...?

Para as almas simples, que as há, a resposta a esta questão poderia constituir um problema (pequeno, é certo, tenhamos noção do que está implícito e da natureza das almas em questão), pois não era fácil dirimir entre caldo verde ou canja, calça de ganga ou shorts, praia ou campo, com possibilidade de montanha (mas isto para um pequeno estrato, atenção!), comida soft ou feijoada, coca-cola ou garrafão, mas que acabava por resolver-se, custasse muito ou pouco.

Para pessoas como a PI, contudo (e compreende-se!), a mesma questão era um quebra-cabeças e um martírio, daqueles para levar a sério e sem pôr em causa o grau de empenhamento, quer na abordagem, quer na tentativa de resolução, habitualmente condenado ao fracasso (hélas, triste sina, esta...), mas a que porfiadamente se dedicava, não fosse ela uma digna e emblemática representante da nobre estirpe dos «porfiantes», por via materna e paterna. E os resultados estavam à vista: por via das dúvidas, mas também por pirraça, seria caldo verde, shorts, feijoada e garrafão!


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