Em jeito de desfile...
A idosa deslocava-se com dificuldade, mas ainda pelo próprio pé. Todos os dias, ou quase todos, cumpria uma espécie de ritual: dar de comer a gatos, uns à frente e outros na traseira do prédio, de manhã e à tarde, sem desfalecimento, com uma ou outra recriminação, à laia de zeladora do bem-estar da gataria, uns mais do que outros, note-se, mas aos eleitos proporcionando aquilo que de melhor lhes poderia proporcionar a estadia numa espécie de «paraíso» - comida, acolhimento e liberdade... Para os outros, os não-eleitos ou encarados como invasores (quem os poderia censurar...!?), uma cartilha diferente, feita de ameaças e de «castigos» à base de voz alteada e de «penas» inimagináveis para os prevaricadores, que se pusessem a pau, ai deles!... E a cena repetia-se, dia após dia...
Como se repetia também um outro cerimonial, à laia de espectáculo para conhecedores e passeantes de ocasião, ao longo da rua por onde a velhota se movimentava, devagar, devagarinho, mas sempre andando em frente, à direcção que lhe servia de destino, e acompanhada pelo seu fiel escudeiro, um gato, pois claro, que a acompanhava, como um cão, doseando o passo e a cadência pelos do da senhora, como num desfile, «Vejam, senhoras, senhores, só visto! Só visto!», com direito a reprise e percurso inverso, nunca se vira uma coisa assim!...
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