Ordinário (ma non troppo)
«Sou um ordinário!», dizia, ao mesmo tempo que tirava o chapéu e fazia uma vénia. Insólito, para não dizer estranho. E, sendo-o, nada melhor do que aproveitar a ocasião e ver até onde é que aquilo nos levaria... Por azar, não trazia comigo a boina, adereço que me facilitava a abordagem a estes casos insólitos... Mesmo assim, faria a abordagem clássica, que poucos conhecem e muitos menos praticam, do: «Desculpe, tem lume...?», fazendo figas para que não me tivesse calhado um adepto da pirotecnia ou dos acendimentos, todo o cuidado era pouco... Mas teria de ser rápido, pois o auto-proclamado «ordinário» fazia vénias a torto e a direito, incluindo às árvores e às pedras da calçada, daí começar a suspeitar de que, mais do que ordinário, estaríamos na presença de um panteísta...
_ Desculpe, senhor, não leve a mal, mas a sua atitude deixa-me intrigado... Por que é que se define como «ordinário»...!?
_ Porque sou. É só isso. Há três gerações.
_ É genético, então...?
_ Não. É nome, mesmo. Próprio, ainda por cima!
_ E não o incomoda, isso...?
_ Depende do ponto de vista... Do meu, não.
_ E qual é, pode saber-se...?
_ É o do banal, do comum, do corrente, do trivial e por aí fora... Ou seja: do que se faz, funciona ou se realiza regularmente... É simples!
_ Sim, compreendo... Mas escolhê-lo como nome próprio, há-de convir que é bizarro!?...
_ Pois é, reconheço... Mas aí, teria de mudar de nome!...
_ E quanto à vénia...?
_ É genético.
_ Por parte de...?
_ De uma tia...
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