Dia de Outono
Um típico dia de Outono. No chão, uma montanha de folhas: uma paleta de tonalidades, escolha preferida no campeonato das cores das estações, um regalo para a vista e a memória... Começa a juntá-las num monte, admirando o formato piramidal que obtém. «Nada mau», conclui, e prepara-se para o que se lhe segue: um pontapé seco, direccionado ao meio, fazendo esvoaçar as folhas ao calha, tal qual como em garoto. Sorri...
Um pequeno «ai!», contudo, obriga-o a olhar em redor. A princípio, não quer acreditar. Mas acaba por ter que se conformar com o que descobre: uma das folhas, equilibrando-se a custo no pedúnculo, confronta-o verbalmente, num tom nada amistoso ou tolerante: «Ó minha besta», começa, «não vês onde é que pões as patas!»...
Julgando tratar-se de uma partida («talvez dos Apanhados», suspeitava) ou momentânea perda de lucidez (nunca se sabe...), aproximou-se mais do local onde supostamente teria visto e ouvido a furiosa folha outonal e procurou confirmar se tinha sido mesmo assim...
A aguardá-lo (quem diria?...), para além de um sonoro «Camelo!», a folha aparentemente dispõe-se a ter uma conversa:
_ Depois da asneira que fizeste, vens agora pedir batatinhas, não é verdade?
_ Sim..., pois..., não sei...
_ Vens tarde, pá! Devias ter pensado antes...
_ Mas,... mas..., m...
_ Nem mas, nem meio mas! Vamos meter-te um processo!
_ Um processo?!... Quem é que são o «nós»?
_ Nós, o monte de folhas, quem é que havia de ser?!...
_ Mas vocês são um monte de folhas!!!... Têm personalidade jurídica?... E como é que conseguem falar...?
_ Isso agora não interessa... Queres falar?... Entende-te ali com o nosso advogado... A partir de agora, é assim.
_ Advogado?!... Onde é que está?...
_ Ali, com a toga, não estás a ver?
_ Onde?
_ Ali, ao pé daquela folha em tons amarelados, estás a ver?
_ Também é uma folha, é isso?
_ Claro! Estavas à espera de quê?... Desculpa lá, pá, mas pareces-me um bocadinho burro. Será por seres humano?...
Um pequeno «ai!», contudo, obriga-o a olhar em redor. A princípio, não quer acreditar. Mas acaba por ter que se conformar com o que descobre: uma das folhas, equilibrando-se a custo no pedúnculo, confronta-o verbalmente, num tom nada amistoso ou tolerante: «Ó minha besta», começa, «não vês onde é que pões as patas!»...
Julgando tratar-se de uma partida («talvez dos Apanhados», suspeitava) ou momentânea perda de lucidez (nunca se sabe...), aproximou-se mais do local onde supostamente teria visto e ouvido a furiosa folha outonal e procurou confirmar se tinha sido mesmo assim...
A aguardá-lo (quem diria?...), para além de um sonoro «Camelo!», a folha aparentemente dispõe-se a ter uma conversa:
_ Depois da asneira que fizeste, vens agora pedir batatinhas, não é verdade?
_ Sim..., pois..., não sei...
_ Vens tarde, pá! Devias ter pensado antes...
_ Mas,... mas..., m...
_ Nem mas, nem meio mas! Vamos meter-te um processo!
_ Um processo?!... Quem é que são o «nós»?
_ Nós, o monte de folhas, quem é que havia de ser?!...
_ Mas vocês são um monte de folhas!!!... Têm personalidade jurídica?... E como é que conseguem falar...?
_ Isso agora não interessa... Queres falar?... Entende-te ali com o nosso advogado... A partir de agora, é assim.
_ Advogado?!... Onde é que está?...
_ Ali, com a toga, não estás a ver?
_ Onde?
_ Ali, ao pé daquela folha em tons amarelados, estás a ver?
_ Também é uma folha, é isso?
_ Claro! Estavas à espera de quê?... Desculpa lá, pá, mas pareces-me um bocadinho burro. Será por seres humano?...
Etiquetas: Historieta
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