A pagar mais tarde
Tirou do bolso um recibo, semi-rasgado, onde se lia, carimbado: «Pago mais tarde». Ficou intrigado com a mensagem, de que não se lembrava a que se devia. Tudo se esclareceria, provavelmente, se conseguisse juntar a outra metade ou metades, pois desconhecia se havia mais do que uma. Não deixava de ser estranho que o recibo fosse de uma consulta a uma vidente, daquelas de turbante, colar, unhas pintadas e bola de cristal, com casa montada na esquina da rua e publicidade feita nas saídas das estações, mas onde nunca tinha posto os pés, pelo menos que se lembrasse... Resolveu investigar e foi-lhe bater à porta, cerrada àquela hora, mas com vestígios de que se iria abrir dentro em pouco, pelo menos foi o que lhe disseram meia dúzia de clientes que aguardavam que isso acontecesse, e a quem perguntou, um por um, só por via das dúvidas, se a vidente era ali e se também recebia naquele dia, pois era feriado.
Colocou-se na fila e pôs-se a pensar no «Pago mais tarde», aposto como um carimbo e não sob a forma manuscrita, que era o que se pensaria à priori, de boa fé, de alguém, o seu caso, que metera um papel daqueles no bolso, certamente para o honrar mas sem se lembrar porquê e para quê... A sua sorte era que iria falar com a vidente e logo tudo se esclareceria, tinha a certeza, pois em última instância a bola de cristal lhe diria de que se tratava...
À medida que a fila avançava, ia aproveitando para falar com os clientes e ir tirando uns apontamentos para uma tese que estava a escrever, ou iria escrever, na verdade, pois ainda não tinha apresentado o projecto e tinha dúvidas sobre o tema, mas que andava mais pelos lados do exotérico do que do esotérico, disso tinha a certeza, mesmo sem a ajuda da bola...
Curiosamente (e tem que haver sempre um «curiosamente» se não as pessoas não se interessam, é dos livros e das histórias várias), o seu número da fila era o treze (ora aí está a surpresa!), o que tanto podia ser bom, para os que crêem, como mau, para os que não, mas que é sempre um número que é conveniente que ande ligado a estas e outras coisas, uma espécie de pião e baraça, passe a comparação, mas trazendo à colação umas memórias para quem as tiver ou quiser... E com isto era a sua vez.
A vidente, «Madama», apresentou-se, recebeu-o com um abraço e começou por lhe atirar com um pó para cima dos ombros, «para afugentar», sossegou-o, ficando sem perceber se era por causa das traças, que suspeitava que começavam a fazer-lhe estragos no capote, ou dos espíritos que lhe andavam a «atazanar a molécula», lembrava-se desta magnífica pérola de tempos idos, de membro de tunas e de fadista nas horas vagas, a «Madama» logo lhe diria... E que era das traças, disso-lho logo, e lhe perguntou «Ao que vinha», mas que não se incomodasse em responder, pois ela, «Madama», sabia tudo... E tinha razão, como se confirmou logo a seguir, quando lhe disse que o meio-recibo, a dizer «Pago mais tarde», lhe tinha sido passado pela Universidade, a instâncias e súplicas dele, para quando apresentasse a tese a que se proporia, o futuro do verbo assim o indicava. Quanto a ela, «Madama», o pagamento podia ser em géneros...
Colocou-se na fila e pôs-se a pensar no «Pago mais tarde», aposto como um carimbo e não sob a forma manuscrita, que era o que se pensaria à priori, de boa fé, de alguém, o seu caso, que metera um papel daqueles no bolso, certamente para o honrar mas sem se lembrar porquê e para quê... A sua sorte era que iria falar com a vidente e logo tudo se esclareceria, tinha a certeza, pois em última instância a bola de cristal lhe diria de que se tratava...
À medida que a fila avançava, ia aproveitando para falar com os clientes e ir tirando uns apontamentos para uma tese que estava a escrever, ou iria escrever, na verdade, pois ainda não tinha apresentado o projecto e tinha dúvidas sobre o tema, mas que andava mais pelos lados do exotérico do que do esotérico, disso tinha a certeza, mesmo sem a ajuda da bola...
Curiosamente (e tem que haver sempre um «curiosamente» se não as pessoas não se interessam, é dos livros e das histórias várias), o seu número da fila era o treze (ora aí está a surpresa!), o que tanto podia ser bom, para os que crêem, como mau, para os que não, mas que é sempre um número que é conveniente que ande ligado a estas e outras coisas, uma espécie de pião e baraça, passe a comparação, mas trazendo à colação umas memórias para quem as tiver ou quiser... E com isto era a sua vez.
A vidente, «Madama», apresentou-se, recebeu-o com um abraço e começou por lhe atirar com um pó para cima dos ombros, «para afugentar», sossegou-o, ficando sem perceber se era por causa das traças, que suspeitava que começavam a fazer-lhe estragos no capote, ou dos espíritos que lhe andavam a «atazanar a molécula», lembrava-se desta magnífica pérola de tempos idos, de membro de tunas e de fadista nas horas vagas, a «Madama» logo lhe diria... E que era das traças, disso-lho logo, e lhe perguntou «Ao que vinha», mas que não se incomodasse em responder, pois ela, «Madama», sabia tudo... E tinha razão, como se confirmou logo a seguir, quando lhe disse que o meio-recibo, a dizer «Pago mais tarde», lhe tinha sido passado pela Universidade, a instâncias e súplicas dele, para quando apresentasse a tese a que se proporia, o futuro do verbo assim o indicava. Quanto a ela, «Madama», o pagamento podia ser em géneros...
Etiquetas: Historieta
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