02 março 2017

Bad Luck(y)

A mulher safava a raspadinha com uma moeda de diâmetro médio. Desta vez é que era, convencia-se, parecendo ganhar mais alento para a tarefa em busca da fortuna (se pequena, se grande, logo se veria). Ao lado, roendo a trela, um cão olhava para a dona ou o dono com ar de aflito, como quem diz que está ali e que está à espera de algo, em linguagem e prece de cão, talvez um xixizinho na erva molhada ou numa esquina mais ou menos próxima... Entusiasmada, a mulher continuava. De súbito dá um «Ai!» e larga a moeda, que cai e rola para o chão, enquanto a mulher continuava aos ais, agarrada ao ombro. O cão, fosse pelo ai ou pelo aperto, assusta-se e abre a boca, não para rosnar mas para abocanhar a moeda, chamando-lhe um figo de imediato, vá-se lá a saber porquê... A mulher não parava de se queixar do ombro, lamentando a sua triste sorte, que voltara a fugir, ainda para mais sem o telemóvel, que não trouxera e de que agora precisaria para chamar o 112, tais as dores... Como se não bastasse o azar no ombro e pelo telemóvel, agora também não poderia telefonar de um telefone público, pois a moeda, que era única e, julgava ela, da sorte, jazia agora na barriga de um cão, Lucky de seu nome, que a olhava enternecido... Ao lado, alastrando pelo mosaico, a manchazinha de urina espalhava-se, como quem não quer a coisa, fazendo, por momentos, esquecer a dor no ombro da mulher, uma luxação, veio a saber-se depois...

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