Machadada
Resolvera dar uma machadada na crise antes que fosse tarde, ela crescesse muito e começassem as vindimas. Era um projecto ambicioso, reconhecia, pois pressupunha o cumprimento dos três requisitos (qual deles o mais difícil...), sendo cumulativos. Mas estava animado. Contudo, o ânimo não chegava. Era importante, digamos que representaria cerca de 25% do necessário, mas os outros 75% eram mais difíceis, atendendo ao aspecto dos seus músculos e à proximidade da época das vindimas, que em linguagem de gestão era «Já ontem!», embora pudesse haver alguma tolerância (pouca) à literalidade da expressão, uma vez que não era todos os dias que se ambicionava dar uma machadada na crise... Ir-se-ia ver como as coisas correriam, mas continuava animado (apesar das frases anteriores). Tinha era que pôr mãos à obra, se a queria concluir a contento. E foi o que fez, começando por fazer extensões e flexões de braços até ao limite do admissível, dado o seu ponto de partida, que era baixo, suspeitava-se... E de facto era, decorridas quatro extensões e três flexões, a terceira já martelada e, aparentemente, feita apenas com o levantar do pescoço, pois o peito continuava teimosamente agarrado ao chão e os braços tinham pedido escusa por nítida incapacidade momentânea para levantar algo mais pesado do que uma pena..., mas tendo sido considerada válida, apesar disso, pois era prática neste tipo de incentivos valorizar o esforço e a motivação, que continuavam elevadas, sendo um critério sempre valorizado, mesmo quando já não há nada a fazer e os formandos só têm como destino o chumbo...
Tinha que se avançar, contudo. E a fase seguinte era a prova de fogo, a verdadeira, a única: pegar no machado e dar-lhe uso! Mas há sempre um risco quando as formações de base não são as mais indicadas para dar conta de um projecto como este, de dar uma machadada na crise, sendo susceptíveis de se enredarem e perderem em pormenores de somenos, como era o caso de saber qual era o género do objecto de corte, se o masculino, «machado», se o feminino «machada», aparentemente importante para quem assim questionava, mas de igual forma irrelevante para quem estava a dar a formação, que após abanar a cabeça resolveu dar um murro em quem estava mais à mão, neste caso o instruendo (ops!, o formando, pede-se desculpa ao auditório e ao simpático público, restabelecendo-se a emissão dentro de momentos...).
Retomada a emissão, resolvida que foi a questão do género, eis de novo o nosso herói, pronto a desferir a machadada fatal, aquela que iria acabar com a crise de uma vez por todas, «acabando-lhe de vez com a raça», expressão que costumava ouvir nos momentos em que se colocava como opção qualquer forma de trabalho físico mais do domínio braçal... Mas a raça da crise era, pelos vistos, «dura como cornos», outra expressão que se recordava de também ouvir nas mesmas circunstâncias da outra, se calhar dita pelas mesmas pessoas, teria que averiguar por quem e se era justificável a utilização das aspas, que à cautela se mantinham, precavendo-se problemas com as citações e os direitos de autor... Mas então, e resultados? «Inconclusivos», diria um optimista, «pífios», resmungavam os cépticos, dando-se-lhe desconto ao comentário, pois já se sabe o que estas almas habitualmente dizem ou pensam...
Na verdade, assentiam os comentadores, a crise continuava onde estivera, com um pequeno lanho, é certo, mas o lenhador estava bem pior, chorando e pedindo à respectiva mãezinha que o viesse ajudar nesta agrura, sobretudo nas mãos e nos músculos (caracterizá-los como doridos era um eufemismo...), mas o mais grave era a safada da crise, que se rebolava a rir e até tossia, de congestionada, mofando e cantarolando (e que bem ela cantava, dirá mais tarde um crítico, que se revelou estar certo e cuja crítica valeu um contrato por seis meses nas salas de ópera do Velho Continente, como se impunha, aliás, e era mais do que justo!...). Estava-se, pois, num impasse, e assim não se ia lá...
Mas, já dizia o sábio, seja ele ou ela quem for, «para grandes males, grandes remédios!». E, no nosso caso, o remédio era o serrote, tomado antes e depois das refeições, sem ser em jejum, de preferência acompanhado com dois ou três copos, de graduação variável, dada a estação do ano e a região vinícola, mas moderadamente...
O que não se contava era com a surpresa, dir-se-á, mais tarde, um verdadeiro «milagre!», de a crise, mesmo depois de serrada ao meio, conseguir, como por magia, reconstituir-se inteira e mais forte, libertadas que tinham sido as peles e gorduras inúteis...
Após a perplexidade, o que acaba por nos salvar é a fé, qualquer que ela seja, neste caso inscrita no ensinamento de que o fecho de uma porta abre sempre uma janela, de oportunidade, neste caso, curiosamente fora das promoções...
E foi o que aconteceu com o nosso herói, refeito das mazelas nas mãos e das dores musculares, que se passeia agora, impante e soberbo, pelos palcos do mundo fora, mostrando e demonstrando o seu número de ilusionismo sobre como se serra a crise ao meio e ela se reconstitui...
Tinha que se avançar, contudo. E a fase seguinte era a prova de fogo, a verdadeira, a única: pegar no machado e dar-lhe uso! Mas há sempre um risco quando as formações de base não são as mais indicadas para dar conta de um projecto como este, de dar uma machadada na crise, sendo susceptíveis de se enredarem e perderem em pormenores de somenos, como era o caso de saber qual era o género do objecto de corte, se o masculino, «machado», se o feminino «machada», aparentemente importante para quem assim questionava, mas de igual forma irrelevante para quem estava a dar a formação, que após abanar a cabeça resolveu dar um murro em quem estava mais à mão, neste caso o instruendo (ops!, o formando, pede-se desculpa ao auditório e ao simpático público, restabelecendo-se a emissão dentro de momentos...).
Retomada a emissão, resolvida que foi a questão do género, eis de novo o nosso herói, pronto a desferir a machadada fatal, aquela que iria acabar com a crise de uma vez por todas, «acabando-lhe de vez com a raça», expressão que costumava ouvir nos momentos em que se colocava como opção qualquer forma de trabalho físico mais do domínio braçal... Mas a raça da crise era, pelos vistos, «dura como cornos», outra expressão que se recordava de também ouvir nas mesmas circunstâncias da outra, se calhar dita pelas mesmas pessoas, teria que averiguar por quem e se era justificável a utilização das aspas, que à cautela se mantinham, precavendo-se problemas com as citações e os direitos de autor... Mas então, e resultados? «Inconclusivos», diria um optimista, «pífios», resmungavam os cépticos, dando-se-lhe desconto ao comentário, pois já se sabe o que estas almas habitualmente dizem ou pensam...
Na verdade, assentiam os comentadores, a crise continuava onde estivera, com um pequeno lanho, é certo, mas o lenhador estava bem pior, chorando e pedindo à respectiva mãezinha que o viesse ajudar nesta agrura, sobretudo nas mãos e nos músculos (caracterizá-los como doridos era um eufemismo...), mas o mais grave era a safada da crise, que se rebolava a rir e até tossia, de congestionada, mofando e cantarolando (e que bem ela cantava, dirá mais tarde um crítico, que se revelou estar certo e cuja crítica valeu um contrato por seis meses nas salas de ópera do Velho Continente, como se impunha, aliás, e era mais do que justo!...). Estava-se, pois, num impasse, e assim não se ia lá...
Mas, já dizia o sábio, seja ele ou ela quem for, «para grandes males, grandes remédios!». E, no nosso caso, o remédio era o serrote, tomado antes e depois das refeições, sem ser em jejum, de preferência acompanhado com dois ou três copos, de graduação variável, dada a estação do ano e a região vinícola, mas moderadamente...
O que não se contava era com a surpresa, dir-se-á, mais tarde, um verdadeiro «milagre!», de a crise, mesmo depois de serrada ao meio, conseguir, como por magia, reconstituir-se inteira e mais forte, libertadas que tinham sido as peles e gorduras inúteis...
Após a perplexidade, o que acaba por nos salvar é a fé, qualquer que ela seja, neste caso inscrita no ensinamento de que o fecho de uma porta abre sempre uma janela, de oportunidade, neste caso, curiosamente fora das promoções...
E foi o que aconteceu com o nosso herói, refeito das mazelas nas mãos e das dores musculares, que se passeia agora, impante e soberbo, pelos palcos do mundo fora, mostrando e demonstrando o seu número de ilusionismo sobre como se serra a crise ao meio e ela se reconstitui...
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