15 janeiro 2017

Hipótese (não absurda)

A mensagem era enigmática. Olhou em volta, não fosse estar a ser vítima de alguma partida, mas não conseguiu vislumbrar ninguém. Voltou a olhar para a mensagem e pronunciou-a em voz baixa, a princípio, mas quando chegou ao fim já parecia um orador. Começou a brincar com a entoação e a gesticular com mais ou menos convicção, entretendo-se durante uns bons minutos, mas não conseguindo afastar da cabeça a situação em que se encontrava, que não era famosa. Teria que arranjar alguma solução, precária que fosse, mas uma solução. Chegou a colocar a hipótese absurda, que lhe agradava mas que lhe poderia servir de pouco, pois levava em conta que as hipóteses absurdas são o que são, têm limitações, mas quando vingam fazem ganhar uns trocos nas casas de apostas, o que não era mau, e foi isto que o tentou a ir por aí.
Contudo, mantinha-se desconfiado. Para agravar as coisas, não havia uma casa de apostas por perto e, mesmo que houvesse, também não teria o dinheiro suficiente, coisas que pareciam difíceis de ultrapassar mas que contribuíam para manter intocado o estatuto da hipótese absurda, com isto se valorizando a coerência intelectual do cenário e a captação da atenção de quem possa estar a ler, como se estivessem à espera de uma oportunidade para desmascarar o meliante da pena, a ver como é que se sairia desta. Tratava-se de um jogo, reconhecia-o, mas um jogo em que, ao contrário do que se pensa, não tinha as cartas todas ou nem sequer tinha cartas. Mesmo assim, teria que se avançar e mostrar o jogo. E foi o que decidiu fazer, expondo a mensagem, onde se lia: «Indiana Jones não passou por aqui... Mas o Houdini sim!».



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