A barba
Gostava de ser fiel aos seus compromissos. Grandes ou pequenos, todos eram tratados com a dignidade e a responsabilidade que lhes eram devidos. Para não se esquecer de nenhum, tomava nota deles num papel e procurava dar-lhes sequência. Ao olhar para o calendário ficara preocupado com alguns que ainda não tinham sido atendidos, o que motivava uma reflexão sobre a voracidade e a velocidade do tempo, não sujeito a limites e ou multas de uma qualquer autoridade, andasse ela de mota ou em automóvel descaracterizado. Mas, tratando-se de um compromisso, nada mais havia a fazer do que atendê-los, fossem que horas fossem ou qual o meio pelo qual se fizessem anunciar, habitualmente por uma luzinha a piscar no cérebro, sobretudo à noite, o que se tornava um bocadinho incómodo, pois dificultava o sono e o descanso. Era o caso do seu compromisso de vir a ter uma barba como a do Pai Natal, que estabelecera como uma das metas para este ano, mas que uma arreliadora e avassaladora lista exigente de outros compromissos comprometera, embora não invalidasse nem deixasse dúvidas sobre a sua continuidade e atenção, por isso havia que fazer todos os possíveis e impossíveis para que não se falhasse. Como já se estava a uma semana do Natal, obviamente que só se poderia contar com os «impossíveis», deixando os «possíveis» para as coisas mais comezinhas, como ganhar um Nobel, por exemplo. Nada a fazer senão pôr-se a andar, pois o «caminho faz-se caminhando», como lá dizia o poeta e fica bem como tirada literária e metáfora existencial, uma espécie de «dois em um», aspecto sempre conveniente nos tempos que correm, dados às preocupações com o ambiente e com a reciclagem.
Tinha uma ideia de como as coisas se poderiam processar, mas estava indeciso quanto à metodologia e à alimentação que lhe conviria para esse fim, embora estivesse convencido de que uma série de alongamentos para as pontas dos pelos e a ingestão de hidratos de carbono não fariam mal, antes pelo contrário, e ainda ganhava tempo e músculo. Como sozinho seria difícil, resolveu consultar os ginásios da zona e procurou saber se havia algum programa específico, em horário diurno, que lhe possibilitasse vir a ter uma barba como a do Pai Natal ainda esta semana, isso era inegociável. Apesar de ter sido bem recebido em todos, desenganaram-no de forma mais ou menos diplomática, dizendo-lhe que não tinham vagas, por causa das candidatas a misses e a misteres músculos, excepto num deles, em que lhe disseram que tinham um programa específico, dado pelo próprio Pai Natal, que ali fazia um «gancho» de umas horas por mês, mas que nesta semana estava de férias, por razões óbvias. Pouco havia a fazer, portanto, pelo menos com a ajuda dos ginásios. Mas não ia desistir, era o que faltava! Mesmo que a barba não fosse como a do Pai Natal, ia continuar o programa de treinos e tentar ficar com uma como a de um intelectual, que são mais ralas, mas as pessoas compreenderiam.
Tinha uma ideia de como as coisas se poderiam processar, mas estava indeciso quanto à metodologia e à alimentação que lhe conviria para esse fim, embora estivesse convencido de que uma série de alongamentos para as pontas dos pelos e a ingestão de hidratos de carbono não fariam mal, antes pelo contrário, e ainda ganhava tempo e músculo. Como sozinho seria difícil, resolveu consultar os ginásios da zona e procurou saber se havia algum programa específico, em horário diurno, que lhe possibilitasse vir a ter uma barba como a do Pai Natal ainda esta semana, isso era inegociável. Apesar de ter sido bem recebido em todos, desenganaram-no de forma mais ou menos diplomática, dizendo-lhe que não tinham vagas, por causa das candidatas a misses e a misteres músculos, excepto num deles, em que lhe disseram que tinham um programa específico, dado pelo próprio Pai Natal, que ali fazia um «gancho» de umas horas por mês, mas que nesta semana estava de férias, por razões óbvias. Pouco havia a fazer, portanto, pelo menos com a ajuda dos ginásios. Mas não ia desistir, era o que faltava! Mesmo que a barba não fosse como a do Pai Natal, ia continuar o programa de treinos e tentar ficar com uma como a de um intelectual, que são mais ralas, mas as pessoas compreenderiam.
Etiquetas: Natal
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