17 outubro 2015

O labirinto


Perdera-se no seu labirinto. Não deixava de ser irónico, mas real. Logo agora, que tinha idealizado uma festa para a sua inauguração… Com tanta coisa na cabeça, não surpreende que se tenha esquecido do fio em casa, que é um utensílio útil e indispensável para quem é possuidor de um labirinto, como todos os proprietários sabem, mesmo em regime de time-sharing. Não se deixaria ir abaixo, no entanto, e aproveitaria para pensar na decoração, pois tinha algumas ideias e gostaria de as discutir com a decoradora, que chegaria mais tarde e a quem ia telefonar para confirmar e para que trouxesse uma meada de fio (já agora). Também estava à espera do pedreiro, com quem tinha combinado uns retoques nos muros e a abertura de uma janela de oportunidade virada a sul, por causa da temperatura, e não a norte, com mais luz, apesar de tudo, que era a ideia da decoradora, ainda influências da universidade onde se formara. Previa que as coisas se tornassem um pouco difíceis, pois a decoradora era de ideias fixas, gostando muito de invocar os seus diplomas e trabalhos anteriores, muitos deles em casas de famílias conceituadas, possuidoras de labirintos finos e requintados, ao pé do mar ou na montanha, ideais para retiros em sociedade ou isolados, com brunch e spa, tudo incluído. Quanto ao pedreiro não devia haver problemas, devendo-lhe ser igual que a janela abrisse a norte ou se projectasse para sul, para ele era igual e só lhe interessava o dele, de preferência sem factura, pois costumava esquecer-se do livro e do número fiscal, uma vez que era o sócio que tratava disso e agora não podia falar com ele, porque não tinha trazido o telemóvel. Teria que se ver como é que as coisas iam evoluir. Contando que aparecesse…
Relativamente ao Minotauro, continuava indeciso. Tivera já oportunidade de trocar impressões com os vizinhos a este respeito, mas ainda não tinha chegado a conclusões. Para uns indispensável, para outros um anacronismo, o certo é que ainda não tinha decidido nada, sabendo apenas que não queria gastar muito dinheiro. Talvez a decoradora conhecesse algum ou tivesse um em carteira, que não fosse muito caro e bebesse pouco, condição imprescindível para se terem garantias de segurança, pois, como se sabe, os minotauros têm cornos e a inspecção do trabalho costuma ser muito rigorosa com as condições em que têm que laborar. Sobre este aspecto, um vizinho, que era ganadeiro, sugeriu-lhe que os cornos do minotauro pudessem vir a ser embolados, como os dos touros, hipótese que rejeitava desde já (embora ainda não se tivesse decidido se ia ter um minotauro no seu labirinto), uma vez que achava que os minotauros não deviam ter os cornos embolados, mas sim manterem as pontas visíveis, para afugentar os intrusos. Caso se decidisse, iria pensar se, em vez de um, não seria melhor um casal de minotauros, para criação.
Iria perguntar à Ariadne, a decoradora, o que é que achava.

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