O vendedor de figos
Como se diz na minha terra, dificilmente aplicaria ao fruto «figo» a expressão «pelar por», usada para caracterizar um gosto muito grande por qualquer coisa, habitualmente comestível. Que a coisa seja de respeito compreende-se, uma vez que até se está disposto a perder algum cabelo e de uma forma nada apelativa - pelar!
Até agora, este pouco entusiasmo em relação ao figo tem-se aplicado, mais concretamente, ao figo fresco, pois com o figo seco a coisa já seria mais do meu agrado, sobretudo se no meio fosse enfiada uma lasca de amêndoa ou um pedaço de noz.
Mas a coisa está a mudar, parece-me, e aplica-se ao figo fresco, que passei a experimentar mais amiúde (e com satisfação, sublinhe-se). Dentro de pouco tempo, palpita-me, sou talvez capaz de me começar a «pelar por» figos - só um bocadinho, é certo, que eu cá sou muito cioso do meu cabelinho em cima da tola...
Passando do tom ligeiro para um mais sério, confesso que foi justamente por causa de uma compra recente de figos, na rua, que este texto se «pôs a jeito», servindo de enquadramento para ilustrar mais uma lição de vida e de agradável surpresa com episódios do quotidiano, tais como os que se verificaram, por exemplo, nesta venda de figos.
A cena passa-se ao ar livre, numa banca de rua, e tem como protagonistas o vendedor, cujo nome vou omitir mas que é um nome próprio pouco vulgar (aliás, reconhecido pelo próprio detentor), nome esse que já não ouvia há anos e que até pensei que estivesse extinto, passe o exagero! (para aguçar a curiosidade pelo nome, caso se queira e para dar um tom de mistério - nostalgia, talvez?...- direi que o nosso vendedor de figos tem o mesmo nome de um célebre goleador do Real Madrid na década de 60...), e eu próprio, abalançado, nesse dia, para a compra de figos. Ao olhar para o vendedor, já com idade, um olhar duro e com cara de poucos amigos, quase que estava convencido de que não lhe iria comprar nada, coisa que não me preocuparia por aí além, uma vez que só estaria naquele lugar poucos mais dias. Pese embora este preconcebido, lá perguntei o preço dos figos e, como não tinha a quantia completa para comprar um quilo, disse ao vendedor que me vendesse o equivalente ao dinheiro que comigo tinha na altura, precisamente a quantia certa para poder comprar meio quilo. E foi aqui, ao saber a quantia de que eu dispunha, que o vendedor de figos com nome de craque do Real Madrid da década de 60 me surpreendeu, ao fiar-me, a crédito e por sua exclusiva iniciativa, o outro meio quilo, fundada numa análise da «honradez» da minha pessoa, «rapidamente» afirmada e atestada pelo vendedor na sequência de conhecimento adquirido em dois cursos «um de filosofia e um de psicologia» (sic) tirados, «por correspondência (!), na universidade americana de...» (infelizmente não fixei o nome e tenho pena, pois talvez me viesse a dar jeito...), podendo pagar quando por lá voltasse a passar e que não me preocupasse. E lá levei eu o quilo de figos, com a promessa de pagamento futuro da quantia em falta e afiançado na minha «honradez», atestada por dois cursos por correspondência de uma universidade americana...
E pronto, pela enésima vez se confirmou, por factos e bons motivos, a conhecida e reconhecida história de «quem vê caras não vê corações», desta vez à volta dos figos, que eram bem bons!
Ah, e já me esquecia, paguei o dinheiro que tinha ficado a dever, tal como como tinha ficado combinado e os «cursos de filosofia e de psicologia americanos» já previam... Também passei a comprar mais umas coisas: uvas, pêssegos, tomates... e concluí, por mim, que os «cursos» devem ser mesmo bons e muito, muito completos, pois até noções de «marketing» providenciam...
Até agora, este pouco entusiasmo em relação ao figo tem-se aplicado, mais concretamente, ao figo fresco, pois com o figo seco a coisa já seria mais do meu agrado, sobretudo se no meio fosse enfiada uma lasca de amêndoa ou um pedaço de noz.
Mas a coisa está a mudar, parece-me, e aplica-se ao figo fresco, que passei a experimentar mais amiúde (e com satisfação, sublinhe-se). Dentro de pouco tempo, palpita-me, sou talvez capaz de me começar a «pelar por» figos - só um bocadinho, é certo, que eu cá sou muito cioso do meu cabelinho em cima da tola...
Passando do tom ligeiro para um mais sério, confesso que foi justamente por causa de uma compra recente de figos, na rua, que este texto se «pôs a jeito», servindo de enquadramento para ilustrar mais uma lição de vida e de agradável surpresa com episódios do quotidiano, tais como os que se verificaram, por exemplo, nesta venda de figos.
A cena passa-se ao ar livre, numa banca de rua, e tem como protagonistas o vendedor, cujo nome vou omitir mas que é um nome próprio pouco vulgar (aliás, reconhecido pelo próprio detentor), nome esse que já não ouvia há anos e que até pensei que estivesse extinto, passe o exagero! (para aguçar a curiosidade pelo nome, caso se queira e para dar um tom de mistério - nostalgia, talvez?...- direi que o nosso vendedor de figos tem o mesmo nome de um célebre goleador do Real Madrid na década de 60...), e eu próprio, abalançado, nesse dia, para a compra de figos. Ao olhar para o vendedor, já com idade, um olhar duro e com cara de poucos amigos, quase que estava convencido de que não lhe iria comprar nada, coisa que não me preocuparia por aí além, uma vez que só estaria naquele lugar poucos mais dias. Pese embora este preconcebido, lá perguntei o preço dos figos e, como não tinha a quantia completa para comprar um quilo, disse ao vendedor que me vendesse o equivalente ao dinheiro que comigo tinha na altura, precisamente a quantia certa para poder comprar meio quilo. E foi aqui, ao saber a quantia de que eu dispunha, que o vendedor de figos com nome de craque do Real Madrid da década de 60 me surpreendeu, ao fiar-me, a crédito e por sua exclusiva iniciativa, o outro meio quilo, fundada numa análise da «honradez» da minha pessoa, «rapidamente» afirmada e atestada pelo vendedor na sequência de conhecimento adquirido em dois cursos «um de filosofia e um de psicologia» (sic) tirados, «por correspondência (!), na universidade americana de...» (infelizmente não fixei o nome e tenho pena, pois talvez me viesse a dar jeito...), podendo pagar quando por lá voltasse a passar e que não me preocupasse. E lá levei eu o quilo de figos, com a promessa de pagamento futuro da quantia em falta e afiançado na minha «honradez», atestada por dois cursos por correspondência de uma universidade americana...
E pronto, pela enésima vez se confirmou, por factos e bons motivos, a conhecida e reconhecida história de «quem vê caras não vê corações», desta vez à volta dos figos, que eram bem bons!
Ah, e já me esquecia, paguei o dinheiro que tinha ficado a dever, tal como como tinha ficado combinado e os «cursos de filosofia e de psicologia americanos» já previam... Também passei a comprar mais umas coisas: uvas, pêssegos, tomates... e concluí, por mim, que os «cursos» devem ser mesmo bons e muito, muito completos, pois até noções de «marketing» providenciam...
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