18 agosto 2010

A «escala» da mentira

Começa-se por uma afirmação, cujo objectivo é fazer graça. Uma «pequena» e «inocente» mentira associada à afirmação conduz a uma pergunta curiosa: «Estás a mentir ou a falar a sério?». E é aqui que a questão ganha asas, apesar das suas (aparentes) ingenuidade e informalidade. Provavelmente não sendo original, não deixa de ser uma reflexão interessante, esta acerca da valoração e da maior ou menor aceitação social atribuídas à mentira, sujeita e susceptível, como no exemplo inicial, a uma escala ou a uma gradação de nível de censura ou de reprovação sociais.
Neste exemplo da mentira «humorística» (chamemos-lhe assim), não sei se muito comum ou rotineiro, a questão não deixa de se colocar, pois de uma «mentira» se trata, para todos os efeitos, e aqui é que toca o ponto, mais sensível ou menos, consoante o interlocutor, o contexto e/ou o(s) protagonista(s). À cautela, parece-me então justificável o uso das aspas, pois, tratando-se de uma «mentira», alguém pode não achar graça que seja qualificada como «pequena» ou «inocente».
O mesmo se poderia dizer ou aplicar a uma «outra» forma de mentira, a chamada «piedosa» - pese embora as circunstâncias em que é utilizada (na maioria das vezes, raramente associadas a contextos lúdicos ou irrelevantes) - pois o dilema ético que lhe está subjacente, dizer ou não dizer a verdade, permanece. E assim por diante, poderíamos continuar nós a estabelecer uma escala ou gradação de mentiras - se é que isso é admissível, mais uma vez se quisermos levar o dilema ético a sério ... - subindo (neste caso, descendo) na (suposta) escala do grau de aceitação social da mentira até atingirmos aquele patamar - apesar de tudo, dificilmente aceitável - em que a mentira visa atingir objectivos inimagináveis (ou talvez não....) à maioria dos mortais.
Seja como for, a questão inicial permanece e à procura de resposta ou respostas. Afinal, no que ficamos: «Estás a mentir ou a dizer a verdade?»...

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