22 fevereiro 2009

Cultura de crise

Seja pela cadência das notícias, seja pela relevância económica dos sectores envolvidos, o que me parece um facto é que as referências ao estado de crise praticamente parecem confinadas aos universos industrial e financeiro. Deixando de fora outros.
Desses, um dos que mais me preocupa é o do sector e das actividades ligadas ao universo e ao mundo da Cultura.
Desconheço se há estudos ou estimativas acerca do impacto que a crise estará a provocar no mundo e no universo da Cultura. Se não os há, eles vão aparecer.
Este é o tipo de preocupações, estou certo - e independentemente do discurso politicamente correcto - que não irá afectar uma grande (larga?...) maioria de compatriotas. Admito que sim, mas é isso que me preocupa.
Tal como não acredito numa vocação cultural sistematicamente posta em prática - salvo excepções, é verdade -, o oposto também não entra nas minhas crenças mais assumidas. Ou seja, só não haverá mais porque não há capacidade (financeira, a maioria das vezes) para mais. E não falo apenas das grandes produções, ao nível da música, do teatro, da ópera, do bailado, mas de coisas mais prosaicas (aparentemente) como o são a leitura de jornais e de livros, a ida ao cinema ou a frequência de exposições. E isto acontece porquê?
Queira-se ou não, goste-se ou não a resposta a esta pergunta é, simplesmente, esta: não há dinheiro!
Mesmo que sirva para iludir outras questões - por exemplo, genuína incapacidade ou falta de motivação para conviver e fruir desta dimensão, simultaneamente intelectual e emocional - o problema da incapacidade financeira é o verdadeiro cerne da questão. Incapacidade esta - e isto chega a ser um paradoxo - ao qual os próprios produtores e/ou promotores parecem estar alheios, quando somos confrontados com as tabelas e os encargos que são apresentados aos consumidores!...
Vivemos numa situação em que todos os tostões contam, esta é que é a realidade. E, na hora de poupar, os «vícios» da alma ou do intelecto são dos primeiros a pagar. Para quem tenha este tipo de «vícios», para alguns isso não verificará. Mas, para uma maioria muito alargada de «viciados», a opção nem chega a ser opção - fecham os olhos, desviam o olhar ou afastam-se dos caminhos que levavam a certos locais ou acontecimentos. É o preço da crise, é verdade, mas também de regras elementares de sobrevivência. E a esta realidade muito poucos escapam.

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