29 outubro 2006

Dominó

Durante alguns anos, fui um praticante fervoroso, entusiasmado e interessado pelo jogo do dominó. Juntamente com a sueca, os matraquilhos e o bilhar, foram como que um roteiro lúdico de gerações, incluindo a minha, etapas necessárias do processo de aculturação social e vivencial. As memórias que guardo desse período são muito boas e gratificantes. Nessa época, o dominó era um jogo muito popular, praticado em todos os cafés, tascas ou colectividades, concitando o interesse de novos, menos novos e velhos, constituindo um bom exemplo de miscigenação etária, social e cultural. À sua maneira, foi uma fonte privilegiada de uma certa vivência e fruição comunitárias, características das regiões do interior. À semelhança, aliás, do que também se verificou com a sueca, os matraquilhos e o bilhar. Apesar de poder ser jogado mano-a-mano, era na componente de parceiros que o dominó ganhava beleza e espectacularidade. Dois bons parceiros, reciprocamente familiarizados com a respectiva maneira de jogar, teciam e entreteciam uma eficaz e disciplinada teia de lances, com sentido táctico e alcance estratégico, tendo por objectivo manter ou alcançar o domínio do jogo conferido pelo "fazer dominó". Mais do que os pontos, o que verdadeiramente os motivava era a possibilidade de prever, condicionar e derrotar os lances dos adversários, em nome de uma atitude e forma diferentes de encarar o jogo, com muito de lúdico e de irreverente. Também aqui, o que verdadeirmente estava em causa era a metamorfose de um antagonismo tão velho quanto a humanidade: o do novo contra o velho, do inovador contra o conservador, do ousado contra o prudente.

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