Em nome dos marcadores precários
Usam-me como marcador de livros. Não gosto e não me sinto confortável. E não me venham com a conversa sobre os benefícios da proximidade com os livros ou a literatura e de o papel que desempenho, ainda que contrariada, contribuir para sinalizar a página onde o leitor deve reiniciar a leitura ou, caso mais raro, aquela página em que, vá lá adivinhar-se porquê?, detectou algum pormenor estilístico, uma ideia, uma imagem que quer reter ou fazer perdurar... Já disse: não quero dar para esse peditório! Falo em meu nome, factura que sou e filha de factura. Mas também o poderia fazer, se para aí estivesse virada, em nome de todo o desgraçado cartão, papel, tira, pedaço, folheto, recibo, clipe, guardanapo, publicidade a curandeiro ou folha de papel higiénico. Uma verdadeira rebaldaria e pouca vergonha! E os direitos, senhores, onde é que estão...? As condições de trabalho, quem fala delas...? E o tempo para a família, alguém me diz como é que se gere...? Como não ouço ninguém, presumo que também não vou ouvir... E os queques...? Sim, os queques dos marcadores com pedigree, aqueles muito lindinhos e cheios de estilo, bem impressos e guilhotinados, a fazerem aquilo para que foram feitos (e bem!), pagos a peso de ouro pela gramagem, o tipo de papel e o livraço que vão ajudar a vender...? Pois é, assobiam para o lado (e que bem que assobiam, note-se, verdade seja dita, boas academias de assobio devem ter frequentado!...). Mas, mesmo que ninguém faça nada, eu não me calo! Algo vai ter que mudar e é já!
Para começar, uma petição a circular online para recolher assinaturas e a apresentar na assembleia. Faço-a num piscar de olhos (publicada em www..., é só pôr o Google a trabalhar e encontram-na logo). De seguida, vamos começar a preparar o movimento dos separadores de livros precários (abaixo! ...desculpem mas foi do entusiasmo); recusar o horário de trabalho vigente, instituindo de imediato (acima!... desculpem, de novo, mas é da emoção) as pausas relaxantes e com afastamento físico dos livros, da literatura e das prateleiras; instituir um subsídio de risco e férias pagas (upa, upa!..., ups!,... sorry). Unidos venceremos!
Não sejas marcador precário (a não ser que queiras, tu é que sabes). Organiza-te!
Factura n.º 123321MR
IVA: isento.
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