09 fevereiro 2020

Obviamente, encravada!

Mais do que a incerteza, o que mais angustiava a folha era quem lhe calharia em sorte. Dantes, no tempo das máquinas, isso não se passava assim, pelo menos via-se o rosto e as mãos de quem teclava. Agora, encerrada nas entranhas da fotocopiadora, tossindo tóner de vez quando, e só apanhando um bocadinho de ar quando o tabuleiro era aberto, as coisas eram mais difusas, embora propícias a um jogo de adivinhação com as parentes, efémero que fosse. Seria hoje que um futuro Nobel se apresentava? Um executivo se extasiava? Uma apaixonada (ou apaixonado) confessava sentimentos? Um jovem se entreteria a juntar letras, números, ou demais sinalefa? Um familiar desesperava por notícias, pequenas que fossem, por razão de uma ausência, uma distância, uma guerra, um mudar de vida? Um visionário propunha um caminho, uma solução, um seguir como? Era uma lista interminável... Logo se veria... Feita a aposta, não teve muita sorte:saíra-lhe um bronco! Danada, resolveu protestar e não se deixou imprimir. Encravou-se. Paz à sua alma.

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