Estendal/Hipocondrices
Todos os dias, fizesse chuva ou sol, punha à mostra o estendal. Era uma incongruência para os vizinhos, mas que pouco lhe importava, ao contrário da falta de molas, sempre insuficientes. Habituara-se a isso e mantinha-se fiel ao princípio, que lhe servia de norma, de que o estendal é para se mostrar. Sempre.
Começava pelas maleitas e dava seguimento às dores e outras que tais, umas piores do que as outras, num repositório de enfermidades, reais ou imaginárias, mas sempre com lugar cativo no estendal, fazendo parelha com as mezinhas, remédios e soluções várias, dos mais diversos foros, modas ou proveniências. Defendia-se com o tempo, a conjuntura ou o destino, apesar de tudo promissor.
Nos dias de sol, o estendal até que era bonito. Nos de chuva não, mais a mais porque se corria o risco de não haver quem o apreciasse. Ambicionava ser considerado património, com direito a estrela Michelin. Até lá, também não era mau, uma referência no catálogo das festas populares, passadas e futuras, serviria para, pelo menos, pigarrear só ao entardecer.
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