Pasticho
Sugeriram-lhe um pastiche ou um pasticho, caso não atinasse com o francesismo. Disse que ia pensar. E foi o que fez, depois de vestir as calças. O pormenor das calças não era um mero pormenor, antes pelo contrário, pois implicava dignidade. Já se imaginou o que seria fazer um pasticho sem as calças vestidas? E, caso se tratasse de um casaco, não teríamos antes uma obra, de preferência com gravata? Estava decidido, pois: seria um pasticho e de calças vestidas.
O empreendimento não era fácil. O menor dos problemas seria o de quem ou o quê imitar, pois tinha-se decidido por um mix, à laia de mistura. Problema mesmo era o do tom, mais acima ou mais abaixo, com modulação ou talvez não. O talvez não era mais do seu agrado, num tom nem alto nem baixo, mas a atirar para o mediano, por causa das susceptibilidades, mas mantendo o ‘p’.
Avisado, deveria começar por baixo. Também era mais fácil e, convenhamos, sensato, apesar de nem todos os sensatos se abalançarem ao pasticho. Mas era aqui que também podia entrar a criatividade, para desenjoar do pasticho, e meter um pouco de sal e pimenta, mais ou menos consoante o gosto, de preferência apurado.
Com sorte, poderia ser um pasticho gourmet. Mesmo que nunca viesse a ter uma estrela, como o xerife, poderia vir a ter um crachá, como nos escuteiros. O que não seria mau, pois poupava-se no metal.
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