16 janeiro 2016

Toleima(s)


Sempre fora dado à toleima. O seu era um exemplo de que podia fintar-se o destino. E a finta não devia ter sido má, pois passara a vida a ganhar com ela, constituindo um percurso próprio, eivado de dificuldades, é certo, mas certificado por diploma e reconhecido por selo branco. Contudo, isso não era o mais importante, agora que se preparava para sair do circuito da toleima. Só mais um esforço e uma pequena investigação, aí na casa das 3500 páginas, depois de revistas e cortadas as 7483 iniciais. Pouca coisa, como se vê, mas suficiente para ocupar uma ou duas tardes, sem dispensar a sesta e um cafezinho. Com um bocadinho de sorte, ainda a tempo de uma partidinha de bilhar, até às 25 carambolas, pois gabava-se de ser um profissional consciente e com nome no mercado. Ainda iria passar por casa da tia, que ficava na zona rica da terra, e ensinar o papagaio a dizer palavrões, com o toque gourmet do sotaque de zona exclusiva, prenda com que iria presentear a tia, de quem gostava muito, mas também para lhe fazer uma pequena pirraça, pois isso era a sua imagem de marca, a sua «marca de água», em linguagem tipográfica.
Pelo meio, tentaria também desvendar o mistério que lhe tinham proposto: o de as ninfas serem quentes, mas se lhes gelarem os pés.
Era um mistério dos complicados, pois remontava à Antiguidade, modo clássico, mas que teria que ser resolvido como os outros, os mistérios normais e não clássicos, mais próximos de si e do seu tempo, curiosamente a dar sinal de frio, contrariando o imediatamente antecedente, que se tinha caracterizado com um cheirinho de Primavera, ainda que em Dezembro, mas fácil de explicar com as alterações climáticas, que de mistério já nada tinham…
Suspeitava que o enigma teria a ver com o esotérico (queria acreditar que sim), até porque lhe dava jeito que assim fosse e conhecia as idiossincrasias de quem lhe tinha proposto o mistério. Mas como em todos os mistérios, presentes ou passados, a resposta estava mesmo ali à mão, sob a forma de manta, gostasse-se ou não do artifício. Seria pois uma manta a chave para o mistério. Mesmo na Antiguidade, pois já as havia. Era mandar um mail às ninfas.

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