01 novembro 2015

O vilão

Não foi por falta de avisos. Também lhe sugeriram «cautelas e caldos de galinha», mas nada o demoveu. Estava escrito nas estrelas, pelo menos nas que se viam a olho nu: iria ser um vilão. Ponderara muito e decidira-se pelo vilão politicamente correcto, pois o politicamente incorrecto estava démodé, mesmo que muitos achassem que este é que era o verdadeiro e o que provocava mais palpitações. Apesar disso, resolvera romper com a tradição da vilanagem e renegar todos os princípios fundadores: a rusticidade, a grosseria, a abjecção, a sordidez, o carácter baixo e vil. A quem lhe criticava a opção desmentia-os com o ar dos tempos e com a lua dominante, mais para cá do que para lá, com ascendente adequado. Também se vestia melhor e de acordo com a ocasião, sinal indiscutível de bom gosto. Era bem formado e mandaria sempre um postalzinho a desejar boa sorte. Mas sem selo.



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