A panca
Nascera com panca e morreria com panca, muito provavelmente. Não se sentia privilegiado com isso, sendo levado a pensar que era mais coisa do destino, com bilhete marcado para as filas da frente, por causa da vista e do enquadramento. Poderia fugir ou renegar esse desígnio, mas, por sorte ou por azar, ele acabaria por lhe bater à porta, anunciando-se ao intercomunicador como presente e disposto a entregar a encomenda, neste caso a panca propriamente dita, com ingredientes escolhidos a dedo e acompanhado de bebida, dependente da promoção em vigor. Assim como assim, o melhor era aceitar e seguir em frente, com direito a fazer umas curvas de quando em vez, testando a perícia como numa gincana. Caso se espetasse ou ficasse empancado, o remédio era continuar e encomendar outra panca, que as havia e a preços muito em conta. Com um bocado de sorte, coisa útil neste domínio, ainda ganhava uma na taluda ou, no pior, como terminação, compensando o esforço e o investimento. Até restaria espaço para uma tirada poética, estando-se inspirado, ou para uma proclamação, caso o jeito fosse para o melodramático. Em nome da panca.
Etiquetas: Normal
<< Home