28 março 2015

A lista


Sempre fizera listas. Começara na escola, onde era obrigado, e desenvolvera o princípio ao longo da vida, desta vez por opção. Como estava familiarizado com as listas, estranhava o charivari que por ali andava, quando resolveu fazer uma lista mais cuidada, em papel de qualidade e com boa gramagem, mesmo próprio para impressão. Ao princípio pensava que era por causa do papel, pois suspeitava que podiam acusá-lo de não ser ambientalista, por não querer usar papel reciclado. Em sua defesa dizia que se limitara a seguir o conselho dos gráficos, que aconselhavam o couché. Talvez pedisse uma segunda opinião, por via das dúvidas. Até lá, suspendia a impressão mas não a lista.
Prevendo que a sua lista passaria a ser de referência, dedicou-lhe todos os cuidados possíveis e imaginários, sendo estes os mais fáceis, pois só dependiam de si. Quanto aos possíveis, a coisa era mais complexa, pois não dependiam de si, que era uma pessoa simples, daí a necessidade das listas.
A história das suas listas era uma influência da cultura anglo-saxónica, que era a dominante, quando apareceu pelo mundo e aprendeu a fazer listas. Não estranha, por isso, que a maioria delas tenha referências a esses cantos (e encantos?) e não a outros, que não conhecia ou conhecia mal. Daí talvez a preponderância, pensava agora… Às vezes queria ensaiar listas provenientes de outros dos cantos mas era difícil, pois não dominava os instrumentos e o ensaio corria mal, habitualmente. Ficava com as que tinha, que já lhe davam muito trabalho.
E um dos maiores tinha a ver com os expositores, que era coisa que levava a sério e pela qual se batia, apesar de às vezes se partirem, pois eram de vidro. Com esta lista que estava a preparar, e que estava suspensa, por causa daquela questão relacionada com o papel da impressão, tinha que encontrar uma solução que fosse simultaneamente eficaz e transparente, o que não era fácil. Mas havia uma coisa sobre a qual já tinha a certeza: a sua lista faria referência ao que de melhor encontrava na praça em matéria de legumes, com especial relevo para a beterraba, fonte de vitaminas, sais minerais e de antioxidantes, merecendo, por isso e legitimamente, o título de um genuíno VMI (vegetal muito importante).

Nota do editor: A utilização da sigla VMI pode prestar-se a confusões, sobretudo para quem tenha sido influenciado pela cultura anglo-saxónica. A dúvida é pertinente, pois não resultou claro qual a classificação a atribuir à beterraba: se vegetal ou raiz, que a verificar-se alteraria a sigla para RMI. Mesmo assim, aconselha-se o seu consumo.

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