Meia-Noite em Paris
Pensando bem, todos teremos a «nossa» «época de ouro», vivida ou ansiada, em que ciclicamente somos convidados a imergir. Segundo uma das definições da Infopédia, a «época de ouro» simboliza ou constituiu «o período da existência de uma pessoa, de uma família, de uma instituição, de uma empresa ou de um país em que, na paz, na saúde e na concórdia, se soube fazer o melhor aproveitamento dos bens espirituais e dos bens materiais que a vida proporciona». E este parece-me um bom ponto de partida para escrever sobre o mais recente filme de Woody Allen, Meia-Noite em Paris, mais uma peça que se acrescenta a um edifício que o realizador permanentemente (re)constrói, num exercício identitário complexo, mas surpreendentemente simples e sensível.
Com este filme,Woody Allen, o magrinho de óculos, grandes óculos, voltou a pregá-la! Embalado pelo clarinete e pelo ritmo clássico do jazz, meteu a mão na sua sacola das surpresas já conhecidas e de lá tirou mais uma e agradável: esta!
Com este filme,Woody Allen, o magrinho de óculos, grandes óculos, voltou a pregá-la! Embalado pelo clarinete e pelo ritmo clássico do jazz, meteu a mão na sua sacola das surpresas já conhecidas e de lá tirou mais uma e agradável: esta!
Já sabemos como é que a coisa funciona para o espectador, pelo menos para o espectador que se foi (re)vendo nas personagens e nas histórias: senta-se na cadeira, começa a ouvir a música e predispõe-se (mais uma vez, e outra, e outra…) para o que é que aí vem, com a tranquilidade de que não se vai estranhar muito em relação a outra ou outras. E a coisa começa e entranha-se, sem sobressaltos e com algumas memórias de outras fitas e personagens: «Lembras-te de quando ele fez de?… E daquela cena em que?... E a figura e o ar dele em?...». Adiante. Como em Meia-Noite em Paris, talvez que os espectadores dos filmes de Allen, cada vez mais, se recordem e remetam para a existência de uma «idade de ouro», «a desejada», «a mítica», «a única», aquela em que o «caixa de óculos», sim, o Woody ele mesmo, protagonizava os seus filmes e nos fazia rir, sorrir ou nos criava nostalgia... Pelos vistos, para a (re)encontrar terá que se estar num determinado «local», a determinada «hora», num determinado «veículo» e esperar, por um passe de mágica - como os que ele faz - que as coisas se conjuguem.
Meia-Noite em Paris, com a sua subliminar mensagem de «Quem me dera viver em tal época!», é também, parece-me, uma homenagem ao(s) filme(s) de Allen e a nós, espectadores dos seus filmes, que também deles se aproveitaram para (re)configurar a sua identidade ou as suas memórias. Haverá uma «idade de ouro» dos filmes de Allen? Se calhar, há. Mas, o que é que isso interessa?... Lembram-se daquela vez em que?...
Etiquetas: Cinema
<< Home