Em jeito de lançamento...
Para ser simpático, o autor era um tudo ou nada chato. Durante dias, massacrou a cabeça do editor com pormenores acerca da cerimónia do lançamento do seu livro de ficções de dimensão curta. «Que poderia ser assim ou assado, frito ou estufado», com muito simbolismo e pouco juízo, como a ideia de cada livro ser vendido com uma mini-lupa e que a cerimónia propriamente dita só tivesse a duração equivalente ao tempo gasto a sentar, desdobrar uma folha, levantar e ir embora, lançando um hip, hip, hurra!... Com bonomia, o editor lá ia descartando cada uma das bizarras propostas, dizendo-lhe que ia pensar nisso, que não se preocupasse… Mas não contava com uma partida do deus dos lançamentos, esse mesmo, o da organização de eventos e afins, vulgo Agenda, que lhe remetera uma proposta, por carta registada, a propor o esboço da cerimónia. Quando a leu ia caindo para o lado, só não acontecendo isso porque se tinha sentado junto a uma parede e o espaço não era suficiente para uma queda para o lado. Quando muito, em frente, mas aí tinha o domínio da situação, eventualmente recorrendo a uma queda controlada, com rolamento ventral. Estava estupefacto! A proposta da organização era ainda mais bizarra do que a do bizarro autor, aquele que era um tudo ou nada chato. Dizia assim: «O lançamento de um livro representa um marco na carreira de um autor. Para uns, um objectivo, para outros um desígnio, para alguns um pagode, mas respeitável. E que depende da adesão dos participantes, queiram ou não. Por tudo isto, há que inovar. Sempre! No caso presente, o que irá acontecer é o seguinte: concentração dos participantes 15 minutos antes da cerimónia de lançamento, para distribuição de dorsais com um número, para não se confundirem, e realização de um pequeno footing à volta do auditório, entoando uma canção dos Beatles (a seleccionar); depois, início simbólico da cerimónia do sentar, com música de fundo, de preferência de câmara (trata- se de um tipo de música, não haja confusões); apresentação do livro por um artista convidado, em formato acústico, sem encore; por último, agradecimento do autor através de uma rapsódia em assobio, estreia mundial e também local; aplausos, vivas e avancemos para o próximo!... (cuidado para não tropeçar nos próximos, que entrarão passados cinco minutos). Com os melhores cumprimentos, (assinatura ilegível).»
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