15 março 2020

O bolso

Habituara-se a sentir respeito, para não dizer temor, pelo juízo que se fazia acerca das pessoas com as mãos nos bolsos, sobretudo homens. Não se tinha apercebido de que o mesmo juízo fosse aplicável às mulheres, o que era prova de inquestionável discriminação, na pior das hipóteses, ou a mera constatação de que era difícil às mulheres andarem com as mãos nos bolsos, na melhor, quer por não os terem nas calças que usavam, quer por ser difícil assumir essa pose, pois estavam sempre muito ocupadas… Seria pois juízo a aplicar a membros do sexo masculino, pelo menos até ver.  
O juízo, como todos os juízos, enfermava de um vício (o que não deixava de ser curioso): era preconceituoso e não tinha em conta as condições climatéricas, o que poderia dar origem a atenuantes, sobretudo se se vivesse em locais frios e a utilização de luvas não estivesse preceituada no vestir regimental. Mesmo no Verão, havia que dar margem à criatividade e deixar que as mãos se encaixassem onde quisessem, incluindo os bolsos. Muitos amores tinham começado assim… 

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