Vida de pêlo
O barbeiro prevenira-o de que os pêlos iriam espalhar-se pela camisola, a mesa e por outros locais não adivinháveis. «Ao contrário de outros tempos, agora não havia tanta certeza sobre onde é que eles cairiam... Sinal dos tempos, fruto de outra mentalidade e de uma forma de estar diferente», dissera-lhe, enquanto lhe mostrava o espelho para dar a sua opinião sobre o corte. Era uma reflexão de conhecedor. Podia constatá-lo. Na camisola, por exemplo, facilmente se identificavam alguns grupos: o dos acomodados, o dos rebeldes e os de nem uma coisa nem outra. Os acomodados sem se importarem, os rebeldes por se incomodarem de mais e o grupo dos que sim, mas talvez não. Para os acomodados, estar na cabeça ou na camisola era igual ao litro; para os rebeldes, ala que se faz tarde, na camisola é que não, havia que conhecer mais mundo; para os de nem carne nem peixe, dependia da dieta... A escova, que era parte interessada, não se pronunciava por ser prematuro. Quando fosse usada se saberia se alguns deles mudariam de opinião...
Etiquetas: Sociedade
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