À procura da paisagem interior - amostra 1
A proposta chegou-lhe por baixo da porta. Não trazia remetente. Como não tinha nada que fazer, deu-lhe uma vista de olhos. O papel era bom (uma surpresa!) e o conteúdo sugestivo e profissional. Começava a interessar-se. Foi buscar os óculos para ler as letras pequeninas (um pormenor, como se compreende) e verbalizou em voz alta o que lhe saltava à vista: «Descubra a sua paisagem interior. Surpreenda-se e surpreenda a Academia». No parágrafo seguinte, instruções precisas para encontrar e explorar a paisagem interior. Olhou para o relógio e para a despensa e resolveu aceitar o repto. Focado que estava, a coisa resolvia-se antes da hora do almoço. Conferiu se tinha tudo: cantil, bússola, canivete, picareta e pá. Não ia precisar de chapéu. Assobiou ao cão e pôs-se a andar.
A primeira coisa para explorar a paisagem interior, diziam-lhe as instruções, era apontar a bússola para si e seguir o azimute. Com confiança, foi o que fez. Como era de prever (a bússola era nova e estava calibrada), a paisagem interior foi localizada sem dificuldade. Mas as facilidades acabavam aí. Agora, começava a parte difícil. Por exemplo, o que é que iria achar da paisagem interior: seria árida ou exuberante? Recatada ou expansiva? Paroquial ou cosmopolita? Se calhar, eram dúvidas a mais para apenas uma manhã... E o problema do almoço não ajudava... Veria o que se arranjava. Mas, chegado ali, alguma coisa tinha que fazer. Como não queria ser invasivo em demasia, resolveu encetar um diálogo inicial com a paisagem interior. Tinha detectado sinais que apontavam para que a paisagem interior já se tivesse levantado e resolveu avançar então.
_ Olá, bom dia. Já estás acordada?
_ Que é que queres, pá?
_ Estou a fazer um projecto, mas preciso da tua colaboração. Estás disponível?
_ Pr'a quê, pá?
_ Para recolher umas amostras. Pode ser?
_ A esta hora?...
_ Sim, tem que ser agora. Posso entrar?
_ Vou pensar... Não!
_ Mas...
_ Já te disse, pá. Hoje não!
_ Bem... sendo assim. Podemos marcar já?
_ Não.
E fechou-lhe a porta.
Não havia nada a fazer. Mas o projecto tinha que continuar. As instruções tinham-no prevenido para a eventualidade de uma situação como esta poder ocorrer. Com algumas paisagens interiores, salientavam, a primeira abordagem podia ser difícil, conflituosa, agressiva, até. O conselho que davam era não forçar e manter a distância, passando para o relatório de progresso a necessidade de rever a estratégia. Ia pensar nisso. Olhou em volta, à procura do cão. Um pouco mais à frente, uma alma perdida fugia à frente da sua paisagem interior, que lhe pedia que a levasse a conhecer outras paisagens...
A primeira coisa para explorar a paisagem interior, diziam-lhe as instruções, era apontar a bússola para si e seguir o azimute. Com confiança, foi o que fez. Como era de prever (a bússola era nova e estava calibrada), a paisagem interior foi localizada sem dificuldade. Mas as facilidades acabavam aí. Agora, começava a parte difícil. Por exemplo, o que é que iria achar da paisagem interior: seria árida ou exuberante? Recatada ou expansiva? Paroquial ou cosmopolita? Se calhar, eram dúvidas a mais para apenas uma manhã... E o problema do almoço não ajudava... Veria o que se arranjava. Mas, chegado ali, alguma coisa tinha que fazer. Como não queria ser invasivo em demasia, resolveu encetar um diálogo inicial com a paisagem interior. Tinha detectado sinais que apontavam para que a paisagem interior já se tivesse levantado e resolveu avançar então.
_ Olá, bom dia. Já estás acordada?
_ Que é que queres, pá?
_ Estou a fazer um projecto, mas preciso da tua colaboração. Estás disponível?
_ Pr'a quê, pá?
_ Para recolher umas amostras. Pode ser?
_ A esta hora?...
_ Sim, tem que ser agora. Posso entrar?
_ Vou pensar... Não!
_ Mas...
_ Já te disse, pá. Hoje não!
_ Bem... sendo assim. Podemos marcar já?
_ Não.
E fechou-lhe a porta.
Não havia nada a fazer. Mas o projecto tinha que continuar. As instruções tinham-no prevenido para a eventualidade de uma situação como esta poder ocorrer. Com algumas paisagens interiores, salientavam, a primeira abordagem podia ser difícil, conflituosa, agressiva, até. O conselho que davam era não forçar e manter a distância, passando para o relatório de progresso a necessidade de rever a estratégia. Ia pensar nisso. Olhou em volta, à procura do cão. Um pouco mais à frente, uma alma perdida fugia à frente da sua paisagem interior, que lhe pedia que a levasse a conhecer outras paisagens...
Etiquetas: Demanda
<< Home