04 março 2018

Banalidade's project

Regressara à terra para concretizar um sonho: produzir banalidades. Há quem lhe chame apelo, outros nostalgia, alguns oportunidade, menos quem diz que é tolice. Fosse o que fosse, agora ali estava. Para trás ficava uma carreira auspiciosa como exobiólogo e uma, não menos promissora, de bandarilheiro em part-time, para concretizar o sonho de produzir banalidades (sem calibre, de preferência, que era o que agora estava a dar, tal como a fruta). Como já tinha o terreno e ajuda, via comunidade, era só apresentar o projecto e pôr-se a produzir banalidades com a força toda! Perspectivava que estaria em modo de produção daí a quinze dias, mais coisa, menos coisa, e tinha que se apressar por causa da chuva, que caíra entretanto.
Sabia que iria correr riscos, alguns escusados, mas outros resultantes do processo de aprendizagem, como se constatava já pela amostra, que ajudava pouco ou nada. Mas não iria desistir. Com vontade, determinação e o apoio das boas-vontades locais e arredores (num raio razoável, vá), julgava que se iriam reunir as condições para a constituição de um cluster de banalidades com selo de garantia e denominação de origem. Pensava em grande, está-se a ver, mas tinha que ser assim - longe iam os tempos do atavismo e da descrença...
Idealizara o projecto com as valências todas, algumas ainda pouco exploradas, mas imbuído de uma visão de futuro. Havia que mostrar que o caminho era possível e que não baixava os braços. Mas havia que «dar corda aos sapatos», ou às botas, mais propriamente, pois queria-se que o projecto, desde os primórdios, se pautasse pelo rigor e pela credibilidade. A hipótese da exportação não estava posta de parte, antes pelo contrário. Aí até estava mais à vontade, note-se, pois a sua anterior experiência na exobiologia podia ser um contributo fundamental, como podia confirmar na sequência da recepção de várias mensagens de potenciais interessados, a maioria provenientes de Alfa Centauro. Do mundo bandarilheiro é que havia mais reticências (previsíveis, aliás, pois era um sector com especificidades próprias), o que exigiria uma estratégia diferente, mais de nicho.
Quando falava ou abordava potenciais investidores no projecto era evidente que tinha uma peculiar estima pelas valências agro, gastronómica e vínica da banalidade, conceito que queria explorar, potenciando uma eventual autonomização. E uma das ideias era precisamente essa: a «agrogastrovin» da banalidade como símbolo de requinte e de bom gosto! Se lá chegasse, tornava-se num must!... Mas, para lá chegar, o caminho era árduo... Como esta banalidade, por exemplo, que lhe borrava o sapato depois de um pontapé entusiasmado para comemorar o kick-off do projecto...


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