Nevada
Nevara no país. Nas terras altas, mais precisamente. Como era habitual, a comunicação social dera a notícia e fizera dela um acontecimento, que de facto o era para a maioria das pessoas, sobretudo para aquelas que viviam longe das zonas onde nevara ou para as que nunca tinham visto neve, como era o seu caso. Por isso, ficou atento.
As imagens não eram propriamente originais, com carros, ruas e telhados, e entrevistas aos passantes, mobilizados ou a pé. No entanto, um dos passeantes disse uma coisa inovadora, a de que «a neve era boa para matar a bicharada da terra, e que viesse muita».
Mostrou-se interessado pela receita e contactou a meteorologia para saber onde é que podia encomendar uma nevada, das grandes, para matar a bicharada que lhe andava a comer a imaginação, que custava bastante a criar e a manter, mas mandaram-no passear.
Ir passear não resolvia o seu problema, pensou, mas ajudava a desanuviar a imaginação, que se tinha mostrado neurasténica nos últimos tempos. Podiam ser gases, também, mas não se lembrava de ter comido algo que os provocasse. Iria passear, pois. E foi o que fez.
Contactada a agência, perguntou onde que é que podia ver e arranjar neve, em quantidade e em conta.
Ficou surpreendido com a oferta que lhe propuseram, com estadia e meia-pensão, taxas e taxinhas incluídas, praticamente para toda a parte do mundo onde se podia encontrar neve, em voos low cost, mas não havia nada para as partes altas do país, que não tinham aeroporto nem hotéis com meia ou quarto de pensão, o melhor que se lhe arranjava era uma boleia no limpa-neves e estadia em casa de pasto com lareira, mas com a vantagem do very typical e da descoberta do país profundo, mais-valias sempre atractivas para quem fosse fã. E era o seu caso. Havia apenas um senão: não aceitavam imaginações.
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