04 setembro 2016

O peso da ironia

«O convite à ironia era irrecusável», lera num artigo de jornal. Como não era o autor da frase, embora a tivesse já lido ou ouvido mais vezes, seguia o que a regra ditava e transcrevi-a entre aspas. Deixou-se tentar pela ironia, também, e resolveu omitir o autor ou a fonte, aqui se afastando da regra. No entanto, como lhe «pesava a consciência» (pese a ironia), resolvia dar pistas aos leitores sobre quem era esse autor e onde é que tinha lido a frase. A frase tinha sido escrita sobre um filme e um festival, que decorria fora do país, e o autor era um dos críticos de cinema do jornal, propriedade de uma empresa da área da distribuição e comunicações, sediada na segunda cidade do país, publicada na edição de sexta-feira. Achava que as pistas eram mais do que suficientes e ficava-se por aqui, «protegendo as fontes», pese a ironia.

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