01 setembro 2016

Ao balcão


Dirigiu-se ao balcão e pediu um café. Olhou em volta e viu que era o único que assim procedia. Os outros, que eram em maior número, estavam sentados às mesas. Sorriu e concluiu que fazia parte de um grupo à parte, que podia ser identificado como «o grupo dos encostados ao balcão», apenas com um único membro, ele próprio. Ao contrário do que se pensa, as revelações, como esta, têm pouco de extraordinário. Chamar-lhes epifanias talvez seja um exagero, mas andam por aí, mesmo assim. Mas a explicação era simples: tinha a ver com a disposição das garrafas, alinhadas de acordo com o gosto do patrão ou da patroa, umas vezes mais, outras menos, mas sinal de alguma sensibilidade estética e apurado sentido comercial, sobretudo para quem aprecia. Também havia quem se esmerasse nos copos, mas era mais raro.
Mas nem sempre o significado do «encostado ao balcão» era tão benigno como se tratava agora, que era mais do domínio da reflexão filosófica, ao preço de uma moeda ou duas de cêntimos. Não que nas mesas não se reflectisse, nada disso, mas fazia-se de uma forma mais densa, daí mais cara e a necessitar de cadeiras.
Deu por si a constatar que o café estava frio. Era uma revelação, também. Olhou em redor e resolveu sentar-se numa mesa. Iria almoçar ali.

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